terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

91 – Enfim, a entrevista...

 Quando entrei na clínica e me dirigi à secretária ela já sabia do que se tratava.

 – Boa tarde, meu nome é Fabriciu e eu vim aqui para uma entrevista... Eu devo falar com... – Não me lembrava o nome das pessoas que estavam me esperando.

 – Ah sim. Fabriciu né? Um momento, por favor... Senhor Paolo, o Fabriciu está aqui para a entrevista... Tudo bem, eu digo a ele... Fabriciu é só seguir o corredor até o fim e aguardar na sala de espera.

 – Ok obrigado.

 Como estava nervoso naquele dia. Cheguei à sala não sei como, fui seguindo reto sem refletir muito enfim no final do corredor bati na sala errado, era uma madre que ocupava o lugar, gaguejei muito para perguntar se era ali a entrevista ainda mais quando me dei conta de que ela estava com uma cara de mal-humorada.

 – sente-se ali e aguarde até ser chamado. – Me respondeu secamente sem expressar qualquer tipo de emoção.

 Fechei a porta e tratei de me sentar. Aquela era uma situação totalmente nova para mim, nunca tinha me submetido a um processo de recrutamento, ainda mais em uma área de conhecimento que não é a minha, me sentia totalmente leigo em tudo aquilo. Enquanto esperava eu ensaiava algumas frases, respostas, perguntas e tudo mais que pudesse vir a minha cabeça. Mais alguns minutos de espera e de tensão depois...

 – Senhor Fabriciu, por favor. – Chamou me uma mulher da porta ao lado da madre, pela fresta deu para ver que estava sentado um homem mais ao fundo. – Olá, eu me chamo Silvana e esse é o Paolo o responsável pelo recursos humano... Sente-se, por favor.

 – Então senhor Fabriciu, nós estamos procurando alguém para cuidar e organizar o almoxarifado, mas somente para daqui dois meses, e sob o regime de contratação temporária, ou seja, a duração é de somente três meses. O cargo exige que descarregue as encomendas que vão chegando e organize-os no depósito. – Paolo começou a me explicar tudo. Fora o esforço descomunal de entender tudo sem demonstrar que eu estou com dificuldades, eu ainda tinha que processar a parte que estava entendendo mais ou menos, a parte que diz que eles iriam precisar somente para daqui dois meses.

 – Imagine só, eu ficar ocioso esperando o dia para começar a trabalhar! E quem iria pagar as minhas contas até lá? Será que eu perdi alguma parte? Eu não devo ter entendido direito. Só pode ser isso. – À medida que Paolo falava eu ficava me questionando.

 – Então você entendeu direito Fabriciu? Nós vamos começar daqui a uns dois meses. O que você acha sobre isso? Qual a sua experiência nessa área de atuação? – Finalizou Silvana.

 Situação emblemática aquela, chegou a minha vez, a vez de mostrar a que tinha vindo, todas as palavras que ensaiei previamente simplesmente sumiram de minha mente, todo aquele vocabulário que eu achava que tinha aprendido eu só achava, não vinham palavras em minha boca. Uma coisa era certa, se eu gaguejasse seria pior, então só me restava falar bem devagarzinho.

 – Bem, eu estou muito disposto a trabalhar. Não tem problema quanto ao começo. Eu dou conta da tarefa... – Claro que não disse essa frase com desenvoltura.

 Eles ficaram paralisados, me observando meio com a boca aberta, só sei que no final Silvana deve ter perdido a paciência e me interrompeu.

 – Eu estou percebendo aqui que você tem um pouco de dificuldade com a língua e isso é um problema para o seu cargo, creio que não seja adequado para você, sinto muito.

 Frustração, desânimo, desespero, impotência, fracasso, tudo isso se somou dentro de mim. Poucas vezes na vida a gente consegue experimentar tantas sensações de diferentes sabores em menos de 1 hora, juntando-se aos quatro mencionados anteriormente o nervosismo, ansiedade, esperança e o otimismo. O pior é que nem tinha vocabulário para argumentar contra a afirmação de Silvana. Só me restou agradecer pela atenção e me pôr à disposição deles caso eles mudassem de idéia. Por educação eles deixaram a oportunidade em aberto, para ser pensado mais para frente, dando a entender de que podiam mudar de idéia no futuro, mas eu percebi que foi só por uma questão de cortesia. Fazer o que?

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