quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

89 – A vaga.

 Domingo agitado esse que eu passei, quando voltei para o meu canto encontrei com Marcos e nos pusemos a conversar por um tempo, ele estava me contando de sua situação na casa, como já era conhecido ele não conseguia pagar as mensalidades e por isso tinha seu passaporte preso por seu Jorge, para completar ele sempre estava fazendo favores principalmente dirigindo, o seu Jorge tinha um carro só que não sabia dirigir, nem ele nem Maria e como Maria estava procurando emprego sempre tinha que levar seu currículo em algum canto ou fazer alguma entrevista, para essas tarefas cabia a Marcos, acontece que um dia a polícia barrou o carro e pediu os documentos de todos, Marcos não tinha nem o seu passaporte o que dirá carteira de motorista ou algum documento válido, por incrível que pareça não aconteceu nada a ele, o policial simplesmente anotou seu nome e o endereço onde ele vivia e os deixaram ir, só que iria um oficial visitá-los para esclarecer toda a pendência que ficou, foi esse o ponto que martelava na cabeça de meu amigo.

 – Mas o que vai acontecer quando eles vierem atrás de você Marcos?

 – Seu Jorge me disse para eu não me preocupar, que ele dará um jeito.

 – E você acha que é verdade? Como ele pode ter tanta certeza?

 Marcos não estava pondo muita fé, mas ele não podia fazer nada, só lhe cabia esperar. Ele estava louco que o seu Jorge o liberasse para pintar o apartamento e assim quitar sua dívida e poder reaver seu passaporte, só que era conveniente a seu Jorge ter um motorista particular à sua disposição. Assim é a vida.

 Novo dia, nova esperança, novas expectativas, tudo parecia que iria girar em torno de minha tão esperada entrevista na clínica. No café da manhã as expectativas de meu casal de amigos estavam direcionados em torno da mudança de Mercedes, nem a minha novidade de me mudar dali desviou a concentração deles. Apesar de tudo eles não ficavam denegrindo a imagem da Mercedes, nem tinham o costume de condenarem suas atitudes, eles demonstravam claramente que só estavam interessados em ter um pouco de paz e tranqüilidade o que seria mais facilmente conseguido sem serem molestados. A vida longe de seu país e de seus familiares já era suficientemente difícil.

 Com o excesso de novidades para pôr em dia acabei me atrasando um pouquinho e quando cheguei ao curso tinha um pessoal, duas garotas e um rapaz, conversando com a turma, eram o pessoal da agência de empregos organizador do curso, no momento em que cheguei, eles estavam explicando sobre a lei que os obriga a disponibilizar cursos profissionalizantes como aquele que eu estava participando, e tinha mais, eles eram obrigados a encaminhar uma porcentagem dos integrantes do curso para alguma empresa. Parecia que a sorte estava sorrindo para o meu lado, eles agendaram horários para entrevistar a todos os integrantes, como eu fui um dos primeiros a conversar com eles arrumei um horário no dia seguinte, logo depois do final do curso, a lógica do raciocínio que segui é que se eu estivesse entre os primeiros poderia preencher a vaga que tivesse separada para o curso. Muitas vezes a gente fica segado pelo desespero da esperança e esquece de incluir os detalhes nos cômputos.

 No meio de tudo isso tem ainda a novidade de Luiggi, ele tinha arrumado um emprego, e adivinhe só, de montador de circuito eletrônico! Parecia uma vaga feita sob medida para mim, como que eu não encontrei esse emprego? Andei tanto, esgotei todas as opções que eu conhecia sem conseguir encontrar essa vaga que agora pertencia à Luiggi. Sentimentos estranhos eu senti naquele dia, espero ter compreendido estes sentimentos.

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