quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

92 – Mudança de habitat.

 A tempestade de sentimentos e emoções que eu acabara de sentir estavam à flor da pele, a caminhada de volta para o meu canto serviu para me acalmar um pouco, refletir e reorganizar as minhas idéias, apesar de toda tormenta que eu estava metido consegui mentalizar o meu objetivo, a de criar condições suficientes de modo que eu possa trazer a minha família para a Itália. Assim como em um navio dentro de uma tempestade é difícil se preocupar com as amarras, o mastro, com que tudo esteja funcionando direito, com tantos detalhes a se preocupar não sobra tempo de se lembrar para onde está indo desviando a atenção do principal motivo da embarcação existir.

 Já na casa os meus ânimos melhoraram um pouco, havia uma movimentação atípica, logo na sala estavam umas malas que me era familiar. – Deve ter alguma ligação com o rapaz que encontrei parado lá fora em frente à entrada do prédio. – Pensei comigo. De repente vejo Mercedes descendo as escadas com mais algumas malas, era ela se mudando para a casa da mãe de seu protetor.

 – Bem seu Jorge, obrigado por tudo. Até a próxima. – Disse ela em tom solene.

 Naquela altura, quando ela estava se despedindo eu já tinha subido para cima e escutei tudo de lá. Acredito que realmente o rapaz que tinha visto lá fora seja o próprio protetor de Mercedes, ele deve ter subido depois para apanhar as malas. Apesar de tudo eu guardava boas lembranças de Mercedes, não me deu peso na consciência de ter brigado com ela porque ela estava abusando, mas não podia esquecer das coisas que ela fez por mim, principalmente quando tinha chegado sem conhecer ninguém, ela me deu suporte para me animar e me sentir com alguém para contar, é uma pessoa muito alegre, de pensamentos simples, onde o mundo não tinha grandes complicações, não fiquei contente com sua ida, mas também não fiquei triste. Resolvi aproveitar que o quarto estava vazio para escrever um pouco o meu diário e depois desci para conversar um pouco e passar as novidades para seu Jorge e Maria.

 – Aproveitando o clima de mudanças gostaria de avisar uma coisa seu Jorge.

 – Pois não. O que é?

 – Eu acho que também vou me mudar assim que acabar o meu mês. - Não estava querendo dizer para onde iria me mudar, por isso disse da forma mais resumida possível.

 – E o que você vai fazer depois do mês Fabriciu? – Me indagou Maria com a questão inevitável e que eu ingenuamente acreditava ser evitável.

 – Vou me mudar para a casa de minha amiga colombiana, Elizabeth.

 Maria olhou para seu Jorge com a boca meio aberta com ar malicioso, ela tinha esse jeito de se surpreender facilmente, logo no meu primeiro dia tinha reparado como ela falou de meu passaporte italiano.

 – Muito bem, é uma pena que você também vá, espero que tudo dê certo lá.

 Ufa! Foi menos complicado do que eu imaginava. Fiquei ali embaixo até David chegar com Sandra, então subimos juntos para dormir logo depois da janta. Por incrível que pareça nenhum dos dois comentaram nada sobre a ida de Mercedes.

Nenhum comentário: