quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

88 – Mudanças!

 Quantas vezes fiz esse caminho e sempre ele é longo, com o risco de eu chegar lá e não encontrar ninguém. Felizmente estavam todos, inclusive o meu já conhecido Federico, cunhado de Elizabeth, eu o conheci na semana anterior àquela quando tinha ido com Elizabeth a uma suposta festa do curso de italiano, em uma tarde antes de eu ter começado a fazer o curso, a pobrezinha se confundiu toda e no final não ficou claro se esta festa houve realmente e em que dia que ocorreu, esse foi um problema causado pela confusão do idioma. Pois é, nesse dia eu conheci Federico, ficamos quase 2 horas juntos na quadra de esportes da igreja na qual a escola de italiano pertencia. Eu fiquei meio de escanteio só observando os dois conversarem naquele dia, estavam discutindo alguma coisa, não consegui me concentrar no diálogo estava mais concentrado nas poses que Elizabeth fazia, muito sensuais, com direito a mão na cintura e ligeiros requebras, ficava de costas demonstrando contrariedade em relação ao seu cunhado emburrada e com biquinho, eles estavam discutindo alguma coisa em relação à esposa de Federico, ficamos eu e o filho de Federico de escanteio, pelo menos o garoto tentou brincar de bola com os dois fazendo de conta que participavam. Meu contato com Federico naquele dia foi curto, conversamos muito pouco, e ele parecia ser um pouco desconfiado, embora fosse quase da mesma idade que eu ele aparentava ter 20 anos, no máximo. Naquele dia quando cheguei Federico estava ali já fazia certo tempo, ele tinha almoçado lá, e estava se despedindo quando apareci.

 – E aí? Você chegou bem na hora de eu estar saindo...

 – Fabriciu, vamos combinar de irmos naquele padre para apresentar o Federico, ele não consegue se arrumar aqui. – Disse-me Elizabete.

 – Sim podemos ir na terça-feira porque amanhã eu tenho uma entrevista em uma clínica para trabalhar. Foi o pessoal de Mozzo que arrumaram para mim. Você acredita?... O Federico já foi naquela igreja?

 –... Nossa que legal! Tomara que dê tudo certo para você... O Federico acha que não compensa ir lá, ele está tentando regularizar os papéis primeiro, porque o pessoal só atende quem tem documentos.

 – Na terça-feira vai ser o meu último dia do curso e será apertado sair de lá para encontrarmos o padre Stefano, seria melhor a gente deixar para combinarmos mais para frente.

 – Não tem problema não, quando der a Elizabeth me dá um toque... Bom me deixa ir que está à tarde. Até mais.

 Dessa vez Federico se mostrou mais receptivo, talvez tivessem conversado sobre mim com ele. Era como se eu estivesse passando por um processo de aceitamento na família.

 Hernan estava ali só observando a nossa conversa, ele sempre gostava de ficar observando, mas quando Federico se foi e as três mosqueteiras foram para um canto conversar, elas adoravam conversar não podia ser exceção obviamente, vi Hernan ali dando sopa e comecei a fazer perguntas a ele para puxar conversa.

 – Então quer dizer que você trabalha na companhia de ônibus municipal? Eu fui lá outro dia e não te vi.

 – É que eu fico fazendo serviço interno e quase não apareço para o público... E você? Tem filhos?

 – Sim eu tenho um filho ele tem nove anos de idade, sinto muita falta dele e de minha esposa... Você também tem um filho não é verdade?

 Hernan tinham filho e já grande, beirando seus 22 anos, só que tinha um problema, o rapaz era dependente de drogas, dava muito trabalho a Hernan, não vivia com o pai, naqueles dias ele estava internado para tentar se recuperar. Hernan comentou comigo que incentivava Pilar a trazer sua filha da Colômbia para viver com os dois, ele dava muito apoio para ela. Também descobri que nas horas vagas ele trabalhava como animador de festas, tinha uma fantasia de palhaço, por isso que o seu carro era pintado com figura de balões coloridos, bolos e um letreiro que não conseguia entender, estava escrito palhaço em inglês. Ele me deu um cartão de visitas onde tinha sua foto de palhaço e os dados para contato, também me deu os brindes que ele distribuía nas festas, na verdade me deu o principal brinde que era um quebra-cabeças com a foto dele vestido de palhaço para montar. Engraçado como uma pessoa que aparenta ser calado faz bicos de animador de festas, mesmo tendo estereótipo de fanfarrão. Foi uma pena de eu não ter assistido nenhuma apresentação dele, tenho certeza de que seria muito engraçado. Depois que se dá corda a Hernan ele desembesta em conversar, falava muito, me contou sobre seu filho, sobre sua profissão, sobre o seu bico, sobre seu relacionamento com Pilar, sobre a filha de Pilar, sobre como é sua casa, enfim falou tudo o que podia até sermos interrompidos pelas meninas. Elas estavam conversando sobre os inquilinos da casa, era um casal de bolivianos, qualquer familiaridade é mera coincidência. Eles eram terríveis, traziam amigos para fazer festa ao estilo boliviano, ou seja, cerveja "Hasta la madre", Cúmbia com o volume do som no último, todos aqueles dramas de que estava habituado a passar com uma agravante, este casal era caloteiro. Fazia três meses que não pagavam o aluguel e todos esses eram os assuntos que afligiam a três meninas, por isso elas nos interromperam para desabafar com a gente. Só que era unidirecional, a gente só podia escutar não podia participar, só sei que no final da conversa aconteceu o maravilhoso inesperado, nós acertamos de eu me mudar para lá, era tudo que eu queria, numa só marretada eu me livrava do caos boliviano em que tinha me metido e viveria com minhas amigas que gostava tanto de passar as horas e ainda por cima teria um canto para acomodar a minha família quando eles viessem do Brasil, um local acolhedor e com espaço para vivermos felizes.

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