sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

82 – 10,00€

Da casa dos missionários até a casa de dona Margaret nós fomos caminhando, tudo ficava mais ou menos ali no centro da cidade. Ao chegarmos à casa de dona Margaret já estava lá Pilar, Hernan, Elizabeth, dona Margaret, um convidado que trabalhava em Milão e ia namorar nos finais de semana em Bérgamo, tinha também um rapaz que estava dando em cima de Elizabeth e mais umas crianças da casa, todos estavam ali num ambiente tranqüilo, aconchegante, simplesmente passando a tarde. Quando chegamos Elizabeth e Pilar demonstraram alegria em nos ver.

 – Olha só quem está ali! Cheguem estávamos esperando por você Maria. E aí Fabriciu tudo bem? – disse Pilar alegremente.

 – Tudo bem. Passei a tarde com Maria, nós fomos fazer um estudo bíblico.

 – Ah sim? Foi tudo bem lá? Venham. Sentem-se aqui.

Sentamo-nos ali em algum canto e nos pusemos a participar da conversa eu como sempre escutando mais do que falando. Sempre preferi observar os outros. Na rodinha conversavam de tudo um pouco, falavam sobre o cotidiano, sobre os desafios que enfrentavam, eram conversas descompromissadas, descontraídas, simplesmente para passar o tempo.

 A certa altura Gláucio apareceu, ele estava voltando de seu trabalho, parecia cansado. Margaret alertou a ele que eu estava presente, ele olhou e sorriu.

 – Oi Fabriciu! Cara esqueci de te avisar que não deu certo de a gente ir lá em Brescia hoje. O meu patrão precisou de mim para cobrir uma falta, mas já conversei com o cara das estandes e combinamos de nos encontrarmos amanhã pela manhã . Eu ia te ligar agora para te avisar. Tudo bem para você?

 – Tudo bem . Que horas nos encontramos?

 – Você vem aqui que lá pelas oito e meia da manhã nós vamos juntos para a estação ferroviária.

 - Fechado! Nos encontramos aqui então.

 Eu já tinha até esquecido de que nós tínhamos combinado de ir a Brescia no dia seguinte, ou seja, no sábado. Minha cabeça não andava muito bom naqueles dias. Fiquei muito otimista com a possibilidade de conseguir um trabalho. Gláucio disse que eles viajavam para outras cidades e ficavam hospedados em hotéis para montar estandes era serviço de três dias a 4 dias dependendo do tamanho dos estandes, muitas vezes eles trabalharam com gente de menos , por causa disso que me deu um otimismo a mais. Não era exatamente o que eu estava procurando, eu precisava de algo fixo para poder levar minha família a morar junto comigo, mas se pelo menos eu pudesse tirar algum dinheiro para custear as minhas despesas já seria de grande ajuda afinal eu tinha que arcar com minha família no Brasil também, além das minhas despesas na Europa, não era fácil.

 Ficamos conversando por um bom tempo, longas horas de risadas e descontração, Hernan ficava o tempo todo só olhando, apesar dele não saber falar espanhol ele conseguia entender alguma coisa, era do tipo quieto, também gostava de ficar só observando, mas era muito boa gente, como todos ali, diga-se de passagem. Finalmente chegou a hora de irmos embora. – E agora? O que será de mim ? Só vai me restar voltar para o meu canto solitário, onde todos bebem para esquecer. – Pensei comigo.

 – Hernan, você pode dar uma carona para Fabriciu até ali no centro? – Perguntou Pilar ao seu namorado em meu favor.

 – Sem problema. Vamos Fabriciu.

 Já era noite e estava um pouco frio, tinha névoa e as ruas pareciam desertas, para mim não precisava de carona, da casa de dona Margaret até a minha eram poucos quarteirões, de carro a gente teria que dar uma volta grande, só que eu sempre fico meio sem jeito de recusar uma boa intenção e por isso fui com eles. Quando estávamos chegando perto de Porta Nuova, Pilar com as mãos fechadas me entrega alguma coisa meio em segredo.

 – Tome Fabriciu.

 Quando olhei com mais atenção percebi que era uma nota de 10,00, nem sabia o que fazer, disse a ela que não precisava. É aquela velha história, como vou recusar uma boa intenção? Eu não pedi nada, ela fez isso de bom coração, na realidade eu poderia estar sendo usado para fazê-la se sentir melhor em estar ajudando o seu próximo, por isso fiquei com o dinheiro, meio sem jeito, mas fiquei. Acho que Pilar não queria que o Hernan ficasse sabendo dessa ajuda porque ela me deu em segredo, sem que ele percebesse.

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