quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

87 – Levantando suspeitas.

 Quando eu voltei de Brescia com Gláucio a gente se despediu e cada um foi para o seu canto. Como não tinha planejado nada para fazer depois dessa viagem eu resolvi voltar para o meu canto, na casa, para decidir o que fazer para o dia. Quando cheguei lá todos já estavam acordados. Era quase hora do almoço que estava sendo preparado, cada um preparando o seu, a cozinha estava congestionada. Fazia um tempo que eu não estava conversando muito com David, coincidiu com o incidente entre ele e Sandra e o começo de minha amizade com Elizabeth, é difícil ignorar certos eventos sem deixar isso contaminar o nosso dia-a-dia. David me chamou para irmos ao supermercado para comprar alguns itens para o almoço. Aceitei de imediato.

 – Fabriciu, vamos comigo fazer umas compra? ... E aí? Como foi lá em Brescia? Gostou do passeio?

 – Foi legal, só que eu achei a cidade um pouco pequena, de vez em quando se escuta falar de Brescia e dá-se a impressão de ser uma cidade maior do que realmente é...

 – Eu nunca fui lá, só conheço de se ouvir falar, mas dizem que o dialeto é outro, diferente do Bergamasco...

 O supermercado ficava embaixo de uma loja de roupas, para ter acesso a esse supermercado era preciso entrar dentro dessa loja e descer pela escada rolante, estranhei, de início, a gente entrar naquela loja, pois eu tinha entendido que iríamos fazer compras em supermercado.

 Mesmo um imigrante proveniente de um país de terceiro mundo e parecer pertencer a um desses países, no caso a Bolívia, e David se parecer com um descendente de índio, andamos com muita desenvoltura pelo supermercado sem despertar suspeitas, eu me preocupei com esse aspecto principalmente porque David estava carregando uma mochila vazia nas costas, eu ficava me perguntando o que ele pretendia com aquilo. Ele comprou queijo, pães, ele adorava pães italiano, uma garrafa de vinho, sempre que ele comprava vinho era porque estava contente, massa e um frango. Quando terminamos de comprar tudo que ele precisava e nos dirigimos ao caixa para pagar foi que eu entendi o motivo daquela mochila vazia, naquela porcaria de lugar as sacolas plásticas eram vendidas! E não eram tão baratas assim. Ele ia passando os produtos e colocando dentro da mochila. Fico imaginando o que aconteceria se alguém entrasse com qualquer tipo de reservatório vazio em um supermercado brasileiro, ainda mais se o portador dessa mochila fosse do estereótipo considerado suspeito para os padrões nacionais, no mínimo teria um segurança seguindo a gente para cima e para baixo, isso no caso de não ter sido barrado antes.

 Enquanto a comida estava cozinhando Sandra e David subiram para cima e eu fiquei embaixo sentado no sofá da sala conversando com o pessoal, Mercedes chegou e foi conversar com Jorge.

 - Seu Jorge, eu vou me mudar daqui, o meu patrocinador quer que eu vá morar com a mãe dele.

 - Tudo bem Mercedes, ele já me pagou a sua estadia desse mês e está tudo certo. Quando você pretende partir?

 - Ele disse que virá me buscar entre hoje e amanhã.

 - Quando o casal ficar sabendo dessa novidade eles vão ficar doidos de felicidade. - pensei comigo, e foi o que aconteceu quando contei a eles naquela noite, Sandra chegou a levantar as mãos para os céus e agradecer, mas não fez isso em um tom sarcástico, foi natural seu gesto. - Será que ela vai sair por minha causa? Da discussão que nós tivemos ontem de manhã?... Não! Eu não tenho tanto poder assim. Além do mais foi o patrocinador dela que tomou essa decisão, segundo as próprias palavras de Mercedes. – Todos esses pensamentos me vinham na mente, a notícia de Mercedes se mudar no dia seguinte à nossa discussão foi apenas uma curiosa coincidência.

 Almocei com meu casal de amigos e tomamos vinho, Sandra até se empolgou na quantidade, não queria parar de beber, ela ficou alegrinha. Terminado o almoço eu tive a impressão que os dois preferiram ficar a sós, acho que ficaram inspirados com o vinho, eles entraram no banheiro juntos com toalhas na mão e todos os apetrechos para tomarem banho. Para não ficar sobrando ali só me vinha uma opção na cabeça, ir à casa de minha grande amiga Elizabeth, já estava com saudades.

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