quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

86 – Brescia.

 Quando chegamos à estação ferroviária havia lá uma fila razoável, e por sorte tinha um trem que estaria saindo nos próximos vinte minutos, tempo suficiente de a gente comprar tíquetes. Mesmo a fila estando mais ou menos grande tinha muita gente concentrada dentro do saguão principal e como não poderia deixar de ser dei um jeitinho de ser notado pelos que me rodeavam, me distrai tanto que quando chegou a nossa vez o Gláucio foi comprar os tíquetes e comprou o meu também.

 – Gláucio não precisava ter comprado meu! Quanto foi? Me diz que eu pago.

 – Deixe estar Fabriciu, na próxima você retribui.

 – Combinado na volta pode deixar comigo.

 Ele não disse nada para mim a respeito do retorno, quando estávamos retornando descobri que o tíquete valia para ida e volta. Tem muita gente lá fora que tem muito prazer em ajudar. A viagem bem como boa parte do tempo que estive com o Gláucio teve um segundo detalhe que eu qualifico como curiosidade, era o fato de ele sempre estar com fone de ouvido ouvindo música, era como se ele quisesse ter o momento dele, para aproveitar as coisas de que ele gostasse, sozinho. Às vezes eu tinha a sensação de estar atrapalhando um pouco, quando tentava puxar conversa, ele era obrigado a interromper sua música, tirar o fone do ouvido, e então perguntar de novo o que eu tinha dito, isso não estimulava muito a conversa. A primeira vez que eu o conheci, ele conversou bastante comigo, contou toda sua história, contou sobre sua família no Brasil, de suas supostas aventuras, digamos assim, amorosas, só que eu não dei muita realimentação sobre seus assuntos com as minhas opiniões.

 Quando estávamos perto de chegar a Brescia, Gláucio ligou para o seu contato para que fossem à estação ferroviária nos encontrar. Chegando lá, demos uma geral por toda dependência, a estação era bem menor que a de Bérgamo, por ali dava para ter uma idéia do tamanho da cidade, tanto pelo tamanho quanto pela movimentação. Pusemos-nos lá fora em frente ao estacionamento.

 – Espero que venha o cara legal para me pagar. A empresa possui dois sócios, eu me dou melhor com um deles, o outro não converso muito... Dessa última vez, fiquei uma semana em uma cidade, foi um serviço grande e eles sempre estão precisando de gente, na próxima, por exemplo, eu não vou poder ir, pois já pedi muita folga para o meu chefe no restaurante... Eles pagam bem, esse último serviço que eu fiz em uma semana, eu tirei mais do que no restaurante cozinhando... O problema é que o cara que eu conheço e me dou bem parece que está um pouco ocupado para vir.

 Conversamos todo o tempo que estávamos esperando comendo umas batatas, daquelas legítimas que vem em pote cilíndrico com Coca-Cola.

 Finalmente chegou o contato e adivinhe só, era justamente o cara que ele não se dava tão bem. Gláucio me apresentou a ele, me elogiou e passou o número do meu celular. O cara sempre estava sério demonstrando pressa, disse que iria me ligar no próximo serviço, se despediu e foi-se. E eu que pensava que iríamos conhecer a cidade, dar uma volta, que nada pegamos o próximo trem que voltava para Bérgamo. Não senti nenhuma força nesse encontro.

 Na viagem de volta foi igualmente calado, Gláucio ouvindo seu toca CD e eu pensando na morte da bezerra.

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