quarta-feira, 4 de outubro de 2006

31 – Rumo a Varese.

Como eu tinha de estar em Varese só no fim do dia e não havia trem direto para lá, achei melhor aproveitar para dar uma geral em Milão, já que era parada obrigatória para trocar de trem. A cidade que eu planejei ficar finalmente entrou em meu destino. Como sempre, não pesquisei nada sobre a cidade, não planejei nada, fui na raça. Um erro imperdoável naquela altura do campeonato. A minha esperança é que algum dia eu aprenda.

Mais uma longa noite depois despertei cedo pronto para ir, iria passear em um trem europeu pela primeira vez. Adoro as primeiras vezes, são sempre as melhores de todas. Consigo lembrar do meu primeiro beijo até hoje! Bem... Isso é outra história...

Cheguei na estação e tinha uma fila boa para enfrentar, naquele horário muitos pegavam trem para irem trabalhar em outras cidades, inclusive Milão. Melhor, assim é só copiar os outros que nada poderia sair errado. Como sempre perguntava tudo o que me parecia “perguntável” às pessoas ao meu redor. Povo miserável, não tinha como fazer eles se abrirem, não davam brecha para um diálogo, naquela época, meu deslumbramento com as novidades não permitia eu enxergar isso, fui perceber bem depois o quão difíceis de lidar são o povo italiano. Comprei o ticket e não conseguia descobrir o que devia fazer com aquilo, não passei por nenhuma catraca, não via nenhum cobrador nas entradas do trem, na passagem não constava o horário da compra, nem destino ou origem. Que diabo! Sem querer vi uma garota enfiando o bilhete numa máquina pendurada na parede, era lá que era marcada a data, hora e local na passagem, uma vez marcada naquela máquina o ticket tinha validade durante 8 horas em uma única direção e dentro de um limite de distância a partir da origem. Era assim que o fiscal avaliava. Em todas ocasiões que eu andei de trem na Itália, nunca cruzei com um fiscal para verificar meu bilhete. É muito tentador para um brasileiro não comprar passagens naquele país, dá a impressão de que ninguém nunca vai te fiscalizar. Quase todos na casa já haviam sido pegos pela fiscalização no ônibus, sem passagem. Óbvio. Como bons sul-americanos habitantes de país do terceiro mundo. A multa para quem for pego dentro do ônibus era o equivalente a aproximadamente 60 bilhetes, só que os europeus partem do pressuposto de que as pessoas são de confiança e são conscientes de suas responsabilidades, por isso, se você não tiver dinheiro na hora para pagar, eles enviam a multa pelo correio e você paga depois. Agora se você não quiser pagar, não vai acontecer nada com um estrangeiro. Bom, esse era o boato que contavam, nunca fui doido de pagar para ver, eu só andava a pé, dava para contar em uma mão quantas vezes que peguei um ônibus naquela cidade. No final todos acabavam pagando a multa, diziam que depois poderia dar problema quando saía a anistia para se regularizar no país. Todo mundo sempre acha as coisas e quase sempre não têm coragem de comprová-las, nem ao menos tentam pesquisar em fontes oficiais. Daí nascem as lendas.

Como a paisagem do norte da Itália era densa, difícil encontrar campos ou mesmo terrenos sem construção, mas quando encontrava havia alguma plantação dentro, os rios não pareciam poluídos apesar de ver tanto progresso, estradas, presença humana em todas as partes. Era uma paisagem diferente, urbana, eu achava bonito. A Estação Central de Milão era algo grandioso, todo coberto e cheio de plataformas de embarque e desembarque, acho que chegava a umas 30 plataformas. Muita gente. Por todos os lados, nem dava para seguir o fluxo de tanto entra e sai. Eu adorava tanta novidade, adorava aquilo.

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