sexta-feira, 6 de outubro de 2006

33 – A hora da verdade.

A hora de me encontrar com Alex estava se aproximando, achei melhor ligar para ele para não haver desencontro. Eu acabara de descobrir uma desconfiança que me afligia desde o começo, o celular que Sanchez me empurrou para comprar estava com defeito. O sinal sumia a toda hora. Minha primeira suspeita foi logo que comprei. A primeira coisa que se faz é garantir que alguém que se preocupa contigo tenha condições de te encontrar ou pelo menos saiba dos últimos passos caso algum imprevisto de qualquer natureza ocorra, passei um SMS para o celular de meu pai com meu novo número do celular e meu endereço, ele tentou confirmar os dados ligando para mim, mas acabou caindo na caixa de mensagem, isso não poderia ter acontecido, em nenhum momento eu havia desligado o aparelho ou usado, só podia ser algum defeito e agora tentando ligar para o Alex o aparelho não dava sinal. A primeira coisa que vem na cabeça é – E se alguém com trabalho tentar ligar para mim e não conseguir linha por causa do aparelho defeituoso?

Finalmente o sinal apareceu de novo.

– Alô? Alex? Estou em Milão. Como faço para chegar aí agora?

– Vai para a estação de Garibaldi e pega o trem para Varese.

– Não é a Estação Central?

– Não. É outra estação. Tem um trem que sai às 16:00H para cá, vai lá que eu vou te buscar na estação. Tudo bem?

– Tudo bem. Estou a caminho.

Nova missão, encontrar Porta Garibaldi. Lá vou eu fazer naquilo que parece ser minha especialidade, perguntar. Na Itália é impossível não se lembrar daquele ditado "Quem tem boca vai a Roma", no meu caso vai a Porta Garibaldi.

Que dias para se caminhar, foi o dia todo sem parar, se aproveita melhor a paisagem assim oras. Estava com uma média de uma pergunta por esquina, mesmo assim teve vezes que passei do ponto onde deveria virar, mas cheguei. Atrasado, mas cheguei. Tive que ligar para o Alex para informar que perdi o trem e lá se vão mais uns bocados de meus créditos. Se não me engano, li que de toda Europa, as chamadas de celulares italianos são as mais caras e concordo plenamente, até o Brasil ganha deles para se ter uma idéia.

Porta Garibaldi era uma estação mais moderna, porém menor. Ali eram a estação de trem, de metrô e terminal de ônibus internacional, se encontrava nos limites entre a parte mais antiga da cidade e as construções mais recentes. Tive que esperar por mais uma hora e meia até o próximo trem, o jeito foi esperar, estava cansado de tanto andar mesmo. Finalmente chegou a hora de ir, na primeira vez que conversei com Alex ainda no aeroporto de Malpensa tinha depositado muita esperança nesse encontro só que o passar do tempo me fez acordar mais para a realidade e naquela altura já não estava esperançoso mais, fui por causa da velha história de não dizer que não tentei. Ao chegar em Varese não vi ninguém. Sempre tive dificuldades de reconhecer um rosto, mesmo pessoas bem conhecidas minha, de vez em quando tenho um lapso e me esqueço do rosto se fico muito tempo sem vê-lo. Meu medo era que Alex estivesse por lá e também não se lembrasse de mim e acabaria de nós dois se esquecendo um do outro, depois de rodar tudo lá sem nenhuma pista fui obrigado a ligar para ele de novo, pela terceira vez.

– Alex?

– Sim, sim, já estou chegando, me espera aí na frente, no estacionamento.

– Até mais.

Finalmente reencontrei-o depois de uma semana, ele trouxe a esposa e o filho junto. Disse-me que me atrasei e por isso não adiantava me levar, a agência de emprego já tinha fechado. O problema é que ele deixou entendido que era o funcionário da empresa que ele trabalhava o responsável pela contratação, não uma droga de uma agência de empregos. E porque ele não me avisou quando eu estava em Milão que não adiantava ir mais? Se fosse assim seria muito mais fácil e barato ter enviado aquele papel inútil pelo correio direto para a agência, aliás, seria mais útil eu fazer de conta que nunca tinha conversado com aquele salvadorenho de uma figa e esquecido essa droga toda. Não podia fazer nada, entreguei meu currículo, que tanto me deu dor de cabeça para fazer, a ele e peguei o trem de volta. Faz de conta que ele vai repassar para a agência. Faz de conta que alguma coisa vai acontecer.

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