terça-feira, 31 de outubro de 2006

52 – Viva a Colômbia!

Quando havíamos chegado nessa casa de família, parecia ter havido alguma festa, a mesa ainda estava posta. Naquela altura já tinha se passado a hora do almoço. Havia lá um rapaz que trabalhava durante a semana em Milão numa oficina mecânica e sua namorada morava com essa família, parentes de Elizabeth, todos colombianos. A casa estava cheia, fui obrigado a reparar no contraste, ninguém bêbado. Todos numa boa se divertindo num clima agradável, descontraído, familiar. Havia garrafa de vinho vazia, uma só, nenhum vestígio de cerveja. Era como se eu estivesse em outro país. Lá conheci uma mexicana, uma contemporânea honorária minha, já que me sinto um pouquinho de mexicano também, ela era casada com um nigeriano e já tinham dois filhos. Lá fora era comum essa miscigenação entre estrangeiros só que no caso deles o casamento foi arranjado. Um patriarca de uma seita que prega a mistura das raças, periodicamente esse sacerdote realiza um ritual num lugar da Coréia do Sul e se dirige a um painel cheio de fotos de gente de todas as partes do mundo, seguidores dele, então ele pega as fotos de acordo com suas premonições, e forma os parceiros que deverão se casar e já se casam ali na hora mesmo. São pessoas que entregam nas mãos dele o destino de suas vidas. De acordo com eles todos os casamentos deram certo, eles eram missionários dessa seita, que pregam a família acima de qualquer outra coisa. O idioma que o casal usava na intimidade era o italiano, cada um tinha o seu próprio do país de origem, os filhos deles falavam espanhol além do italiano, estavam acostumados a brincar com seus amigos hispânicos, não falavam o idioma do pai. Passamos o resto do dia naquela casa e depois, no final do dia, voltei para minha realidade.

Dia movimentado, só estavam David e Sandra com visitas, eram as duas irmãs de Sandra com seus respectivos namorados, estavam fazendo uma pequena festinha, com a famosa Cúmbia de tema musical. Acontecem certas coincidências bizarras de vez em quando. Naquela época estava estourando uma dessas músicas cuja letra tratava da traição de uma mulher a tradução do refrão para o português era mais ou menos assim "... outra noite tu saíste com ele esta noite tu ficaste com ele..." e assim por diante. Aconteceu que uma das irmãs de Sandra, que eu havia conhecido naquela hora, se encantou com a minha pessoa. Na frente do namorado! Começou a puxar conversa e se aproximar demais de mim, sem nem tentar disfarçar, David me chamava para um lado para me afastar dela e dali a pouco ela vinha, o namorado a puxava para conversar e ela ficava irritada. Chegou uma hora que ela lhe meteu um tapa na cara! Depois daquilo ele encostou-se ao sofá largando-a e fechou os olhos. Todo mundo fazia de conta que não acontecia nada. Que coisa horrorosa. Nunca nem tinha imaginado um situação daquelas. Se eu subisse podia acontecer de ela ir atrás. O que achei mais curioso foi a postura do namorado, a moça o repudiava, maltratava, xingava e ele continuava no pé dela, nem parecia se importar com aquela humilhação. Felizmente logo arrumaram uma desculpa para todos saírem dali. Acabei sendo o pivô do fim de uma festa.

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