domingo, 22 de outubro de 2006

47 – Enfado.

A volta para Bérgamo foi tensa. Aquela facilidade de subir no ônibus sem ninguém para dar satisfação me fez esquecer de comprar o bilhete para a volta, quando me lembrei já era tarde demais, e o fato de estar com as duas que ajudara a trazer as malas me desestimulava a descer para comprar, decidi correr o risco. Não valeu a pena, não conseguia conversar tranqüilamente com minhas colegas, fiquei muito nervoso, toda hora que via alguém na estrada já imaginava que poderia ser um fiscal, assim que chegamos nos limites da cidade desci, fiz o resto do caminho a pé mesmo. A melhor coisa que eu poderia fazer era caminhar, só tinha pontos a favor, fazia bem para a saúde, economizava, emagrecia, dava para apreciar a paisagem com mais calma, escutava as pessoas conversando, eu podia ir perguntando coisas a elas, era mais difícil de perder oportunidades das mais variadas, podia ir pensando no próximo passo e pelo menos no meu caso eu não encontrava nenhuma desvantagem, nem a primeira que viria normalmente, a de perder tempo, eu tinha todo o tempo do mundo mesmo. Eu desci no Hospitale, que era o hospital da cidade, um lugar que nunca tinha ido antes, por isso foi confusa minha volta para casa.

Terminei meu dia conversando com o pessoal da casa como de costume. Naquela noite, Mercedes deu um jeito de incomodar de novo. Acordamos com seu Jorge entrando no quarto bravo brigando com, olhe só que coisa, o irmão de Sandra! Num desses lances de sono pesado, nem percebi quando ele chegou, nem percebi o que aconteceu até seu Jorge entrar, não percebi nada! Mercedes convidou o rapaz para dormir com ela, ali no meio de todo mundo! Lembro-me de despertar, rapidamente, algumas vezes durante a noite e escutar uns suspiros e beijos, de Mercedes dizendo, com ar de impaciência e enfado, algo como.

– ...que foi? ...para! ...não, dá um tempo ... droga!

E uma voz masculina sussurrando e tipo rosnando, baixinho. Era uma coisa tão improvável de acontecer ali, com tanta gente, que acredito que meu subconsciente tenha processado aquilo como um sonho, e me fez ignorar o barulho. Só pode.

O seu Jorge entrou com tudo e disse.

– O que você está fazendo aqui? Ninguém pode subir aqui. Tinha que pegar uma pessoa dessas.

– Seu Jorge, me desculpe. Fui eu que trouxe ele, eu garanto que isso não vai mais acontecer. – Interveio Sandra para tentar aliviar a barra do irmão. Enquanto que seu irmão se levantava com cara de quem ainda não se despertou direito. Não via sinal de Mercedes. Não sei para onde ela tinha ido, pois eu estava fingindo que dormia. Antes de Jorge entrar eu vi Sanchez no corredor terminando de subir a escada e apontando para o quarto, em silêncio, foi aí que seu Jorge se tocou e entrou bravo, creio que já tinha havido alguma coisa lá embaixo antes, talvez Mercedes saiu naquela hora sozinha. No outro dia David ouviu Sanchez dando um toque a Jorge que quem trouxera o rapaz tinha sido na verdade Mercedes. David me disse que era mais comum isso antes, quando ela não usava muletas e namorava o filho de Marina, enquanto o pobre de chifres saia com os amigos para tomar, Mercedes trazia os rapazes pra d... para o quarto. Isso foi bem antes de eu chegar. Essa garota estava aborrecendo muito, David planejava em deixar a casa, já não agüentava mais o furdúncio da menina, eu estava muito aborrecido com as sucessivas interrupções de meu sono noturno. Com minhas relações com o pessoal da casa aprofundadas e solidificadas eu me sentia mais à vontade de tomar uma atitude, só estava esperando o momento certo para agir.

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