sexta-feira, 13 de outubro de 2006

39 – Final de semana à vista.

O final do dia se aproximava e meu mais novo amigo Marcos tinha que cuidar de suas coisas, eu aproveitei para tentar falar com o padre Estéfano ainda naquele dia, fui ao seminário. Por sorte eu o encontrei lá, sozinho, devia ser porque era final de semana. Ele me chamou para sua sala e procurou em cima da sua mesa o documento que eu tinha deixado com ele no dia anterior contendo o meu código fiscal. Uma vez encontrado entrou no computador dele para preencher o formulário de inscrição. Como engenheiro e usuário de computador, como ferramenta de trabalho, não podia ignorar a máquina do padre. Ele trajando aquela roupa de monge na cor marrom, parecia ser de algum século que já passou, sentado em um escritório moderno cheio de todo quanto é tipo de aparelhos eletrônicos e de frente para um computador de última geração, monitor de cristal líquido de 17” no mínimo, mouse sem fio e teclado translúcido com efeito especial. Antes realizou uma pesquisa na internet para ver o regulamento do curso e confirmar os papéis necessários. Imprimiu o formulário em sua impressora a laser e foi para o aparelho de fax para passar meus dados à escola. É o paradoxo da modernidade, um padre Franciscano todo a caráter, mas com todos os equipamentos que a modernidade oferece é obrigado a usar um aparelho de fax, ao invés do e-mail, porque o instituto que vai dar um curso que envolve tecnologia no chão de fábrica não está apto a receber inscrições pela rede mundial de computadores. Naquela época não sabia ao certo sobre o que seria o curso, sabia que era para fábrica. Eu realmente estava mais empolgado com a chance que teria de estar em contato direto com italianos e fazer, finalmente, amizade com algum deles, eu também tinha esperança de encontrar um trabalho antes do curso. Sempre é bom atirar para todos os lados até um deles dar certo.

Voltei, depois de mais um dia de caminhadas, dessa vez com uma novidade, encontrei Sanchez sóbrio e sem sono, não podia desperdiçar aquela chance, me sentei na sala e esperei. Não precisei esperar muito, logo a gente trocou umas idéias. Ele estava lá já fazia um tempo e quase nunca trabalhou, fazia bicos. O que entendi era que ele tinha deixado filhos, se tinha esposa não ficou claro. Curioso a situação dele, nunca soube ao certo como funcionava o esquema dele na casa, se era parente de alguém lá. Ele falava demais, só que ao contrário da maioria que gosta de falar demais esse não falava de si próprio. Gostava exaltar a Bolívia, exagerava, viajava. Era metido a sabichão, todo mundo gostava de zoar com ele sobre essa mania de se meter a entendido de tudo, uma das coisas que adorava dizer para mim era sobre as coisas que o Brasil tomou deles, como o gás, ou o território que hoje forma o estado da Rondônia. Ainda bem que essa história da confusão que Evo Morales está causando para os empresários brasileiros não aconteceu naquela época, senão eu estaria bem arrumado, fico imaginando Sanchez exaltando as bravatas de seu presidente, terrível. Ele gostava de dizer também que a capital mundial do carnaval era em Oruro, por acaso sua terra natal. Nem dava para eu levar a sério as coisas que ele falava, poucas vezes ele estava sóbrio o suficiente para discutir esses assuntos. Quando estava “borracho” era muito desagradável, não comigo ou alguém da casa e sim com as visitas, visita e Sanchez tomado era quase sinônimo de confusão e o duro era que não dava para entender o motivo da discussão, acho que era porque o cara se tornava muito inconveniente mesmo, coitado.

Lá em cima Estela já começava a planejar seu final de semana na casa de algum amigo, ela tinha horror de passar ali, não me lembro de tê-la visto um único final de semana lá. Mercedes já tinha sumido para a rua e Sandra e David estavam para dormir, Sandra iria trabalhar todo o final de semana colhendo alface em uma estufa com seus irmãos e David trabalhava nos sábados de manhã também.


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