segunda-feira, 9 de outubro de 2006

35 – O melhor curso de italiano...

Aquela história do curso profissionalizante pareceu interessante, garanto que iria estar cheio de italianos para eu conhecer e fazer amizade, era tudo o que estava procurando. Corri atrás do tal “códice fiscale”, era perto de onde estava, na Comune de Bérgamo, era só se inscrever na máquina e pegar a senha para me chamar, até acabei ajudando uma senhora que estava perdida. Minha vez chegou, no final o cara, para não fugir da regra, com jeito de pouco caso disse que o número sairia assim que eu tivesse uma residência. Que sorte! Estava com o certificado da Comune que acabara de retirar comigo, com o original. Entreguei assim mesmo, eu sabia que deveria tirar uma cópia e deixar a cópia lá, mas não, entreguei o único documento que possuía de minha transferência. Tem coisas que não dá para explicar porque fazemos. Enfim, aquele papel nunca mais me fez falta, parecia que ele veio somente para eu retirar o meu código. A famosa “burrocracia italiana” veio à tona novamente, provando que não servia para nada. Tudo o que o cara queria era um documento para cumprir o ritual, aquele que eu havia entregado era só um protocolo indicando que fiz um pedido, não estava certificando que já possuía residência na Itália, além disso, mais tarde, algumas semanas depois, fui descobrir através do próprio padre Estéfano que dava para tirar um código pela internet! Era uma coisa sem lógica, o código era uma composição baseada no nome, data do nascimento e lugar onde nasceu, desses dados saía uma seqüência de letras e números imutáveis, característico de cada pessoa, na realidade na internet o que sai é uma simulação do códice, só passa a valer depois que entrar com os papéis nos órgãos competentes. Na prática isso não fazia a menor diferença, as agências, os cursos simplesmente pegavam esse número para constar no papel, ninguém checava nada e acho que nem tinha onde checar, depois que o padre Estéfano descobriu isso distribuiu códigos para todos os estrangeiros que apareciam por lá, para ele era um tesouro aquela descoberta, aquele bom homem ficava aflito quando alguém o procurava e saíam de lá com as mãos abanando, alguma coisa, por menor que fosse ele precisava fazer pelos que o procuravam. Voltei correndo para o seminário para me inscrever ainda naquele dia, o padre estava vendo outras coisas e me pediu para voltar no outro dia, ele me pediu para eu deixar meu mais novo documento com ele, a certidão de “códice fiscale”. Para mim era bom, assim eu tinha uma desculpa de voltar lá.
Como não deu certo, para não perder o dia, fui preencher uma ficha em alguma agência de empregos para variar. Sempre que estava caminhando eu marcava as agências para voltar depois e já tinha varrido um monte, acredito que naquela cidade tem no mínimo 30 agências e a cidade não é tão grande em extensão assim. Para eu caminhar de uma ponta a outra eu levava uns 40 minutos fácil. Existiam muitas cidades grudadas uma nas outras, os limites eram placas indicando, raramente se encontrava campos abertos. Não consigo parar de pensar que apesar de tanta urbanização os rios eram limpos, límpidos, sem nenhum odor característico dos daqui. Eu li nos jornais de lá que o terreno na Itália era, em média, o mais caro na Europa. Por isso que cada espaço sem construção tinha alguma horta ou plantação, eles não desperdiçavam nada.
Fim do dia, é hora de me encontrar com meu amigo David, jantamos e bebemos um vinho, ele descobriu que eu adorava vinho. Até Sandra que repudia álcool estava animada para beber e passou a pedir a David todos os dias. Sandra era uma boa pessoa, se dedicava exclusivamente a David, me parecia muito solitária. Deixou os filhos na Bolívia com seus pais, acho que eram três filhos, difícil de acreditar com aquele rostinho de adolescente. Ela conheceu David lá e ficou louca por ele, não o deixava em paz, insistiu tanto que David foi obrigado a ficar com ela. Segundo a versão de David, não tive oportunidade de escutar a versão de Sandra, mas as cenas que testemunhei não desmentiam meu amigo.

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