terça-feira, 24 de outubro de 2006

48 – Combinado!

Um novo dia, a velha busca por agências. Ainda na via Quarenghi meu celular toca, olho para o identificador e vejo que é um telefone fixo. Meu coração gelou. – Só pode ser um trabalho! – Pensei ansioso e nervoso. – Será que eu vou dar conta de entender? Será que vou conseguir me comunicar? – Nunca tinha pensado nessa hipótese, comprei o celular só para ter um meio de contato caso surja um trabalho, só que eu nunca tinha pensado se iria adiantar no caso de uma agência me chamar. Tá certo que em comparação de quando cheguei meu italiano avançou a passos largos, mas com certeza faltava muito chão para eu compreender satisfatoriamente uma conversa por telefone, é muito diferente de quando se está cara a cara. Pessoalmente existe a realimentação visual, a pessoa com quem está conversando percebe quando se está compreendendo e pode fazer mímicas e gesticular, e pela expressão da pessoa é possível imaginar o que ela está querendo dizer, por telefone não se pode usar desses subterfúgios. Bem, como gostam de dizer, se a gente está na chuva é para se molhar né? Respirei fundo e atendi.

– Sim?

– Fabriciu? Aqui é Elizabeth.

– Quem? Dá onde é?

– É Elizabeth. A gente se conheceu em Mozzo, na igreja ontem. Se lembra?

– A sim, Elizabeth! Como está? E aí? Deu tudo certo ontem? Chegaste bem com a carona?

– Sim, sim. ...olha, conversei com meus parentes aqui e eles disseram que não tem nada lá onde eles trabalham.

– Que pena, eu sei que está difícil mesmo, não tem problema, valeu pela atenção.

– Conversei com minha irmã sobre você e eles gostariam de te conhecer, você pode vir aqui neste sábado para eu apresentar você a eles? Eu posso te levar para conversar com meus parentes, de repente dá alguma coisa certo.

– Tudo bem... Como a gente faz então? ...me passa seu endereço.

– É fácil, você vem pela via Canozzi e depois que passar a ponte da auto-estrada, é o primeiro prédio à esquerda, depois é só procurar o nosso nome no interfone. Pegue a linha azul, qualquer um que venha para essa direção.

– Legal Elizabeth, eu mal posso esperar para chegar aí, pode me esperar. Um abraço.

Eu mal podia esperar mesmo, nem acreditava que ia passar um final de semana longe daquela melancolia dos “bebuns” da casa. Conhecer pessoas sempre foi um de meus passatempos prediletos.

Esse resto de semana foi realmente movimentado para o meu celular, ele tocou de novo no dia seguinte, desta vez eu já estava preparado para atender em qualquer idioma, o evento com Elizabeth me deu um preparo melhor e veio na hora certa. Foi uma moça que ligara para confirmar meu curso que o padre Estéfano me inscrevera.

– Fabriciu? Estamos ligando para confirmar o curso.

– Que? Curso? – Por um momento eu tinha tido um lapso de memória. – Ah sim! O curso! Eu mal posso esperar para começar ele, estou contando os minutos.


Eu disse tudo isso e a moça me entendeu! Ela até achou engraçado e deu risada do jeito que falei com ela. Achava que eu estava brincando. Que nada, estava falando a sério. Aquele curso era mais do que qualquer outra coisa a grande chance de me aprofundar no idioma conhecendo gente nata dali. Era tudo o que eu estava querendo naquele momento. Eu realmente estava contando os minutos. À parte da novidade sobre meu celular tocar duas vezes, não tive grandes ressaltos, só o costumeiro preenchimento de fichas e caminhadas sem fim.

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