quinta-feira, 5 de outubro de 2006

32 – Milão.

O ar milanese tinha um toque de mistério para mim, logo de cara, na saída da Estação Central me deparo com um cenário bem diferente do de Bérgamo. Milano, como é conhecido na Itália, tinha uma inspiração de grandiosidade, começando pela própria Estação Central, avenidas grandes, prédios grandes, não eram arranha-céus porque no tempo que aquela parte da cidade foi construída não existia isso ainda, mas justamente pela idade é que ressaltava a imponência do lugar. Bem mais para frente é que fui descobrir o que senti na pele, as ruas da cidade foram construídas em círculo.

Meu plano de improviso naquele lugar foi procurar por emprego, comecei pela agência de emprego que ficava logo ali em frente, preenchi a costumeira ficha de cadastro e parti para outra. Não fazia a menor idéia para que lado seguir, quatro vias se encontravam, ou começavam ali, qual delas devia pegar? Optei pela avenida maior, a que segue em frente, para não sei onde. Estava decidido a não pegar nenhum meio de transporte, não estava a fim de me meter em encrencas. Um aspecto que acho nostálgico lá são os bondes, nas partes mais tradicionais da cidade não existe ônibus urbano, só “il tram”. Apesar dessa novidade para mim não entrei em nenhum! Às vezes a gente acerta sem querer, mesmo partindo de pressuposto equivocado. Naquela altura eu tinha em mente que assim que me arrumasse e trouxesse minha família iria sobrar tempo para andar do que eu quisesse, passear e conhecer tudo o que sentisse vontade. Mesmo todos dizendo da crise que a Itália estava passando e vendo com meus próprios olhos as reclamações e angústias que tomava conta de todos que me cercavam eu tinha um diferencial, era cidadão italiano, naquela altura eu ainda acreditava que isso fazia diferença.

A uma altura cansei de procurar agência de empregos, em Bérgamo havia uma em cada esquina e aqui parecia mais escassa, daí me veio na cabeça de perguntar para as pessoas nas ruas mesmo se sabiam de alguma coisa, assim eu mantinha um ritmo maior de estar em contato com italianos. Valeu a pena do ponto de vista de oportunidades para conversar, eu acho que se tivesse feito isso no Brasil as pessoas iriam me olhar com desconfiança, isso não aconteceu lá. Todos eram unânimes em uma coisa, não sabiam de nada para me indicar além de uma maldita agência de empregos. Teve um que falou para eu ir ao Café logo ali adiante, me disse: – Vá lá e pergunte se tem alguma coisa para você.

Achei que ele sabia o que estava falando, talvez conhecesse o dono ou tivesse conhecimento de alguma informação privilegiada. Que nada. Os garçons ficaram olhando para mim com cara de “e eu com isso?”. Eu não ligava, o que estava valendo era o contato, praticar, conhecer. Outra coisa que chama a atenção é que todos que eu abordava não me trataram mal ou com pouco caso, sentia que eles despendiam uma atenção para comigo, quanto a isso não posso me queixar, só não davam brecha para prosseguir uma conversa mais descontraída. Parei em um parque para descansar e logo se sentou de meu lado um senhor, ele estava passeando, trajava bermuda. Puxei conversa com ele, disse que era brasileiro e a que eu tinha vindo, sorriu e respondeu bem à minha abordagem, mas se eu não falava nada ele parava. Eu definitivamente não estava acostumado com aquilo, sempre fui o lado calado em uma conversa, sempre preferi escutar a ficar falando e lá se eu não falasse ninguém falava, a não ser meus amigos bolivianos claro.

Meus cinco currículos que eu havia imprimido se foram só restava um comigo, o último, então, enquanto fui visitar uma universidade, encontrei uma casa de fotocópia em frente e tratei de tirar mais, era um sistema novo para mim, self service, você mesmo tirava suas cópias. Visitei uma igreja em restauração, tentei falar com o mestre de obras para pedir emprego, só que ele não estava. Sempre ia às igrejas da Itália, são lindas, tinha algo de místico nos lugares, acho que era por causa da idade delas, acredito que aquelas igrejas tinham no mínimo 500 anos de idade, daí para mais. Devido àquelas ruas tortuosas de Milão, outro dia fui descobrir que rodeei a Catedral de Milano, o Duomo, e não consegui vê-la. Sabia que tinha uma grande catedral lá, mas não consegui passar em frente dela apesar de esta ficar no centro dos círculos da quais as ruas formam, passei por todas as ruas vizinhas, até na enorme galeria coberta que fica ao lado estive menos na catedral. Felizmente isso não fez a menor diferença.

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