quinta-feira, 19 de outubro de 2006

44 – Una muchacha africana?

O caminho até Mozzo (me desculpem, estive errado todo o tempo! Mochos está errado o correto é Mozzo) foi longo, tinha inclusive alguns trechos menos povoado. Fomos contornando o monte da Città Alta, nunca chegamos a subir, só contornamos. Minha preocupação era com a hora de descer, ficava atento, toda hora perguntava para alguém até que uma garota disse que também estava indo para lá também, tinha jeito de atirada, desinibida, um tipo de carisma natural. Bem, talvez fosse só para mim que parecia carisma, enfim não me caia mal, pena que ela estava tão perdida quanto eu. O que me tranqüilizava era que o ônibus estava cheio de bolivianas, em último caso era só seguir o fluxo que com certeza todas estavam indo para lá. Dito e feito percebi uma movimentação, era o sinal de que eu deveria ir também. Saí procurando a igreja com pressa, parecia que ia se formar um fila. O lugar era logo ao lado da parada, aí foi só ir seguindo em frente que logo cheguei no ponto certo. A fila já estava se formando, consegui entrar num ponto onde tinha umas cadeiras para me sentar, só que tive de ceder para uma senhora que estava próxima de mim, fiquei ali de pé lendo meu jornal do dia, L’eco di Bergamo (http://www.eco.bg.it/Ecoonline/). Só que é muito difícil para eu estar em um lugar cheio de gente e ficar sem me comunicar parece que dá coceira na língua, mesmo que seja em espanhol, pelo menos eles são bons de papo, fazer o que. Em todo caso... Não vou falar... Não vou falar... Não vou falar... Tá bom. Eu vou falar.

– Alguma de vocês sabem o que significa essa palavra aqui “ucciso”?

– Eu acho que é assassinado.

Respondeu-me uma garota duas posições atrás de mim. Todas a olharam com surpresa, realmente era uma palavra bem diferente e totalmente descorrelacionada com a tradução para o espanhol ou português, em espanhol seria “asesinado”. A expressão de todas era. – Como ela sabia o significado de uma palavra tão esquisita? – Uma simples palavra pode revelar tantas coisas, o fato daquela garota saber a tradução e todas as demais ficarem surpresa não indica que ela estuda o idioma local mais que as demais, é uma pista de uma característica óbvia dos gostos dela. Sugere que ela tem o hábito de acompanhar os jornais, só eles falam tanto em assassinato, o pior é que quando essa palavra vem em alguma manchete nos jornais ela fatalmente estará acompanhada de mais duas palavras, “padre” e “figlio”, traduzindo é pai e filho. Sim, quando não é o filho que matou o pai, foi o pai que matou o filho, de vez em quando trocam a palavra pai por avô ou avó, os mais raros são quando envolve outros membros da família, mas na maioria das vezes fica entre família. Pelo menos uma vez por semana aparecia uma notícia dessas, no começo que não entendia bem eu pensava que estavam tratando do mesmo caso, pois se repetia muito. Mesmo assim não se pode garantir que esse tipo de crime seja acima da média na Itália em relação ao resto do mundo, talvez os italianos se interessem demais por esse tipo de notícia e os jornais exploram bastante isso para dar audiência, afinal os italianos têm muita fama de serem os mais ligados à família e valorizarem bastante esse relacionamento.

O que me agradava por lá era a abundância de jornais gratuitos, havia vários de distribuição diária e com notícia de qualidade, foi uma fonte de informação e aprendizado da língua sem igual, acho que é mais importante do que televisão, pois enquanto eu ia lendo deixava o dicionário do lado, consultava todas as palavras, na televisão não daria para ficar consultando. Em todo caso nunca tive acesso à TV em Bérgamo e acho que não fez falta.

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