quarta-feira, 25 de outubro de 2006

49 – A caminho de algo sólido.

Este final de semana foi especial, consegui mudar um pouco os ares, mal sabia a Elizabeth na encrenca que ela estava entrando. Combinei com ela de chegar em sua casa às 10:00H da manhã, mas não senti muita firmeza em sua voz, deu a impressão de que era cedo demais. Tinha que se dar um desconto o fato de ter sido uma surpresa ela ter retornado um compromisso informal  comigo de conversar com seus conhecidos sobre mim e ainda de me convidar para conhecer sua casa já na segunda vez com tão pouco tempo de contato, se fosse para contar creio que não estivemos nem duas horas juntos, descontando as interrupções. O duro foi controlar a ansiedade, sempre tive o hábito de levantar cedo demais para os padrões da modernidade, as pessoas querem dormir o máximo possível, principalmente nos finais de semana para tirar o atraso, não consigo fazer isso ainda mais quando tem uma novidade na parada, aí que eu acordo cedo mesmo. Não teve jeito, fui cedo, devagar, caminhando, torcendo para que a distância fosse grande, felizmente pelo contexto do dia e infelizmente para o resto dos meus dias em Bérgamo era. Entrei em um supermercado para ir ao banheiro e enrolei um pouquinho ali. Continuei, a tal da ponte sobre uma rodovia nunca chegava. Reconheci os lugares do caminho, já tinha passado por ali, passei em frente ao parque sinistro que Marcos queria me levar, passei em frente à central dos carabinieris até passar pelo ponto mais distante que já estive por aqueles lados, a rua do cassino onde estive com Marcos, dali em diante era terreno inexplorado. Cheguei a uma ponte que passava sobre um rio, era a primeira vez que estava vendo um fora de trem ou carro. Que coisa maravilhosa! Não tinha nem um cheirinho de esgoto a céu aberto! Só não deu para ver o fundo do rio porque fazia uma sombra forte naquele ponto e estava escuro. Dava a impressão que se podia beber daquela água. Era só impressão, isso eu não podia afirmar com certeza. Não teve como não ficar um tempo apreciando aquilo, era a primeira vez na minha vida que eu estava vendo um rio de pequeno porte passando no meio de um grande centro urbano totalmente límpido e inodoro. Nem imaginava que isso existia. Já vi, por exemplo, o rio Cuiabá passando pela capital de mesmo nome que parece ser limpo, pelo menos era inodoro, mas aquele rio é enorme e a cidade não teve competência suficiente ainda de poluí-lo à altura. Que falta faz uma câmara nessas horas.

Finalmente a tal da ponte apareceu, já estava ficando desconfiado de que tomara o caminho errado, do outro lado da ponte lá estava o prédio, grande, bonito, imponente... Quanto exagero. Era um prédio comum. No portão havia duas campainhas, para cada prédio do condomínio, e não lembrava qual era o sobrenome deles, só o número do apartamento, não me sobrou outra alternativa a não ser chutar, acabei chutando errado era a segunda opção, olhei no relógio, estava no horário, dei uma olhada em volta, ensaiei algumas palavras, pensei no que faria ao chegar lá, respirei fundo e toquei. Minha mais nova amiga atendeu.

– Sim?

– Blu... bla... Ga... ...oi aqui é o Fabriciu...

– Oh! Fabriciu? Espera um pouco... Pronto... Sobe aqui, é no quinto andar.

– Em qual dos dois prédios que eu entro?

– Entra no do fundo, o apartamento você sabe qual é né?

– Sei. Estou indo, obrigado.

Embananei-me todo para começar a falar, deu um nó na minha língua até sair alguma palavra compreensível, devia ser o nervoso. Antes que pensem alguma coisa, dessa vez nem passou pela minha cabeça que poderia ser alguma armadilha, estava tranqüilo e ansioso pelas novas amizades que eu estava prestes a fazer. Mais uma vez minha intuição estava gritando, desta vez me dizia que seria algo muito bom, uma amizade sincera e sólida, aquilo era tão certo quanto um e um são dois e já adianto que minha intuição acertou em cheio, na mosca.

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