quarta-feira, 18 de outubro de 2006

43 – A origem da confusão esclarecida.

Um dia antes do famigerado dia de finalmente eu ir para Mochos, me preparei à altura, fui à agência de transporte público urbano para obter informações. Uma linda construção com pilares no estilo romano geminada com outra atravessando a rua uma de frente para a outra em uma ponta da esquina cada. Lá encontrei um mapa completo com todos os destinos possíveis por toda Bérgamo e cidades vizinhas. Aquela seria a primeira vez que eu ia andar em um ônibus urbano europeu e não podia haver falhas, me informei sobre os locais que vendem o bilhete, em qualquer banca de jornal. Conversei com todos na casa, todos já tinham ido a Mochos pelo menos uma vez, para mim era o momento esperado, carregado de simbologia, sentia que alguma coisa de bom ia acontecer.

O dia começou cedo, nem tomar o meu costumeiro café da manhã com meus amigos eu tomei, saí com todos ainda dormindo.

A sinalização do transporte público na Europa segue um padrão semelhante em todos os países membros. Creio que seja fruto do processo de cópia das melhores idéias, à medida que iam surgindo alguns aprimoramentos em um dos países os demais imitavam havendo assim uma natural convergência na padronização das indicações, que por sinal são muito boas. Quando se pega o jeito ninguém nunca mais se perde em lugar nenhum e consegue rodar para qualquer lado sem precisar conhecer a cidade, mas como toda primeira vez a gente fica confuso com aqueles números, descrição de zonas, com a cor de cada linha, nome do lugar de destino final. Para um estrangeiro que não está acostumado, tudo era muito confuso, parecia complexo demais, principalmente a questão da zona, dependendo da distância que se percorria tinha-se que pagar mais. Eu queria saber como que alguém vai controlar a distância que se percorre? Por isso comprei a passagem mais barata que tinha, não consegui identificar as zonas que estaria me locomovendo, eu merecia um desconto, afinal era minha primeira vez. Logo de cara olhei que deveria pegar a linha de cor azul e parei no primeiro ponto dessa cor que encontrei, sorte que tenho o costume de procurar desculpa para conversar e me informaram que eu deveria ir para o outro lado, aí fui procurar um ponto daquela cor na outra direção. Andei um bocado até encontrar a tal da cor, só que o número do ônibus que eu devia subir não constava na placa, via o meu número passar sem parar onde eu me encontrava, novamente tive que buscar outro ponto que tivesse aquela cor com o número do meu ônibus. Fui encontrar lá perto da minha primeira vez, em frente, atravessando a rua. Finalmente meu número estava passando, por sorte estava eu com minhas perguntas para tentar praticar italiano e me informaram que a derivação final daquele que estava passando naquele instante desviava antes de chegar em Mochos, além do número eu tinha que pegar a derivação que terminava com uma letra específica depois do número. – Mas que complicação! Isso tudo realmente é necessário? – Pensei com meus botões. Minha primeira impressão foi péssima, nunca que eu iria dominar o uso daquele sistema de transporte. Mesmo depois de tanto me informar perdi um tempão até finalmente acertar. Toda aquela aparente confusão implementada dentro de um dos países que é referência nesse quesito não poderia ser o caos que parecia ser e felizmente não era, com o tempo, já na terceira vez é fácil de pegar o macete. Para começar, eu poderia ter comprado a passagem lá perto da casa onde fico e pego um ônibus com linha diferente e trocado ali em Porta Nuova para o destino que tinha de ir, aliás, eu poderia trocar de quantos ônibus fosse necessário em qualquer ponto de parada sem precisar ficar pagando a cada nova troca ou precisar passar por uma catraca, nem cobrador tinha para conferir se eu tinha algum bilhete. E as portas de entrada, amplas, espaçosas e o que para mim era mais incrível, não havia escada para entrar, o piso do ônibus era na altura da calçada e quando havia algum declive mais acentuado o ônibus se curvava para corrigir essa diferença. Aquela sinalização que no começo não parecia fazer muito sentido passou a fazer, achei até ruim porque eu nem sentia mais a necessidade de fazer minhas costumeiras perguntas em italiano, fazia só para não perder o costume, sem precisar mesmo. Agora gostaria de ter uma boa resposta para minha grande questão. – Para que alguém vai precisar de carro num país que oferece transporte de primeira, bom, barato e para qualquer lado possível? – Você tem um chofer que dirige enquanto você lê o jornal do dia, um bom livro ou simplesmente conversa à vontade apreciando a paisagem com algum amigo seu, no maior conforto, com ambiente climatizado. É muita mordomia. Depois que se conhece aquela maravilha e volta, fica impossível não associar aquilo que chamam por aqui de transporte público com transporte para animais. Minha cidade natal Avaré era conhecida como a capital nacional do cavalo e tenho um amigo veterinário de um haras que emprestou, uma vez, o caminhão que transporta os cavalos para nossa turma ir fazer um acampamento na represa Jurumirim, perto da nossa cidade. Posso garantir que aqueles cavalos viajavam mais confortáveis do que qualquer um num ônibus urbano dentro do estado de São Paulo.

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