sexta-feira, 3 de novembro de 2006

55 – O curso.

Mercedes estava conversando sobre deixar a casa, não ficou muito claro se o patrocinador dela que queria transferi-la para a casa de sua mãe ou ela que estava querendo ir, de acordo com suas conversas pelo celular dava para concluir que era o cara que estava querendo. David e Sandra iam ficar aliviados quando souberem, imaginei, só faltava saber o dia que essa maravilha iria acontecer. Eu já não conseguia puxar conversa com ela mais, só conversava o mínimo necessário para manter o formalismo. Para completar a novidade de mudanças, Conan estava se mudando para o apartamento do lado, o lugar de onde Mercedes foi obrigada a pular a cerca de volta para o nosso pátio, naquele dia que estávamos comemorando o aniversário de Jorge e que ocorreu toda aquela confusão. Parece que todos que vivam lá antes deixaram o apartamento e Conan estava assumindo o lugar sozinho, de um lado eu achava ótimo assim o quarto iria desafogar um pouco, só queria saber por quanto tempo iríamos ficar com menos pessoas. Não fazia sentido Conan deixar seu espaço, ele gostava de gente, precisava de alguém para compartilhar suas cervejas e dormia igual uma pedra, era difícil despertar com aqueles barulhos que Mercedes fazia, não fazia questão de luxo nenhum e privacidade era de menos para ele, fora o dinheiro que iria gastar para alugar sozinho um lugar, afinal ele estava lá justamente para juntar dinheiro com o mínimo de gasto e voltar para o seu país, alguma coisa não se encaixava ali, nem brigado ele saiu. O melhor que eu podia fazer era dormir mesmo para o primeiro dia de meu curso na manhã seguinte. Só que David chegou e mais uma vez de fogo, o meu alarme já apitou, nunca vi o cara assim e de repente acontece dois dias consecutivos! É difícil ignorar e não imaginar que alguma coisa estava acontecendo. Naquela altura eu ainda estava embaixo me colocando a par dos acontecimentos do primeiro final de semana fora, foram muitas novidades de uma vez.

Lá em cima enquanto escrevia meu diário e recarregava meu palm, o meu estimado casal de amigos discutiam, não dava muita bola porque Sandra adorava cismar com David por qualquer coisinha, era um tipo de charme, acredito, David era muito brincalhão e sempre dizia coisas para provocá-la aí ela sempre vinha com a seguinte pergunta "Que cosa?!", é assim que se pergunta em italiano, tem uma sonoridade bonita, para cada declaração de duplo sentido que David soltava para provocar, ela vinha com essa pergunta, eu já estava acostumado com esse jogo deles e nem me liguei se era sério a discussão ou não, de repente David solta uma bofetada na cara de Sandra, aquilo me deixa assustado, largo tudo e fico atento neles, não disse uma palavra, não estava compreendendo o que estava acontecendo, de repente ele dá outro tapa nela, dessa vez eu não podia ficar calado tinha que interferir de algum jeito.

– David! Eu não posso permitir que você faça isso. O que está acontecendo com você?

– É ela. Você não percebe que fica aí com tonteiras sem sentido?

– Mas nada justifica essa brutalidade. Pare já com isso que não está certo.

– Para mim basta David, vou sair daqui agora. Não agüento mais essas coisas. Adeus.

– Cala-te já. Venha aqui e deite-se, você não vai sair daqui não. Venha já! Venha!! Venha!!!! VENHA!!!!!!!

Aquelas palavras não saem mais de minha cabeça, ele pronunciava em italiano "vieni". Ela acabou voltando e deitou-se de costas para ele, aí ele me soltou um daqueles sorrisos característico fiz uma expressão de decepção e me virei também para dormir, era muita coisa para minha cabeça num só dia, ainda tinha que me preparar com a subida da Mercedes e a zorra que ela fazia.

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