sábado, 4 de novembro de 2006

56 – O curso!

Nesse dia não tomei café da manhã com meus amigos, não conseguia fazer de conta que nada tinha acontecido na noite anterior, minhas relações com David se esfriaram um pouco por um tempo. Sai cedo para garantir que eu não fosse perder nada em meu primeiro dia. Havia estudado antecipadamente, como sempre, o itinerário até à escola. Antes eu tinha de passar na casa de Margaret para conhecer o brasileiro que morava com ela, só que ele ainda estava dormindo e combinei de passar na hora do almoço depois do curso. Pelo caminho que estudei eu tinha que atravessar o túnel d’Oro, mas eu esqueci de prever a passagem pela casa de Margaret e por causa disso dei uma volta maior para não correr o risco de eu me perder. Esse túnel se encontrava na base da montanha de Città Alta e depois eu tinha que seguir mais uns dois quarteirões até avistar a escola. Foi tiro e queda, lá estava ela, era no estilo de uma dessas escolas antigas que tem pelo Brasil, para o ginásio. Entrei pelos fundos, pelo estacionamento. Não é necessário dizer que era cedo demais, não tinha ninguém ainda, quando entrei no banheiro até despertei a curiosidade de alguém que estava chegando, fiquei por lá reconhecendo terreno, tinha uma daquelas máquinas de café, a tentação de colocar moedas por um café foi grande, mas resisti como Dom Quixote. Dali um tempo surge um rapaz com cara de que era para fazer o curso, parecia árabe, balancei com a cabeça, ele respondeu e seguiu reto, foi para a máquina de café, depois de um tempo ele volta com dois copos e me diz algo, não entendi direito o que estava me dizendo, sorri para concordar, então ele me oferece um copo para mim, seja o que for valeu era tudo o que eu queria naquele momento. O movimento aumentou e começam a chegar mais gente. Logo chegam mais dois rapazes que também pareciam árabes e cumprimentam o primeiro e logo conversam em árabe, acredito eu. Depois vejo passar uma senhora com uma garota de bengalas, como as de Mercedes, logo uma senhora idosa e outras pessoas, mas alguém para nos orientar nada. A hora estava chegando quando finalmente apareceu um grupo de senhores para nos buscar e nos levaram para uma sala lá em cima. Eu busco um lugar bem no centro da sala, assim tenho mais chances de conversar com todos, afinal meu objetivo central ali era aprender italiano, nem sobre qual assunto exatamente eu sabia do que o curso iria tratar, eu tinha uma impressão de que estava relacionado com indústria, não estava seguro. Cada um tinha uma pasta branca em seus respectivos lugares, com materiais dentro, uma apostila, calculadora, caneta, bloco de anotações, folders explicativos. Na apostila fui conhecer o nome do curso “Addetto Macchine Utensili”, era relacionado ao princípio de funcionamento das máquinas industriais. O professor chamava-se Estefano, um senhor muito educado e polido, se apresentava com muito orgulho, para mim fazia uma pose de falsa modéstia, era por causa dos olhos dele, quando relatava sobre seu passado profissional ele fazia com um sorriso indisfarçável em postura ereta e fechando os olhos lentamente. Com o tempo deu para perceber que era o jeito dele, na verdade era uma excelente pessoa, comprometida com o aprendizado de seus alunos e disposto a ajudar no que fosse possível, uma pessoa muito linda. Ele apresentou o curso, relatou sobre sua experiência de 30 anos no chão de fábrica, não tinha curso superior, tudo o que ele ia ensinar foi aprendendo com a mão na massa, tinha muito orgulho de seu histórico de trabalho e demonstrava paixão pelo que fez trabalhando com tornos mecânicos.

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