terça-feira, 14 de novembro de 2006

64 - quarta-feira.

Que sono me deu nesse dia, aquela garota, a Mercedes, ficou zoando a noite inteira com o intuito de atingir David e parece que se esqueceu que não tinha só ele no quarto, até Estela, mesmo havendo uma cama vaga que pertencia ao Conan continuava dormindo na mesma cama, ficou meio chateada. Aliás, Estela era uma garota perseguida, por isso não dormia sozinha de jeito nenhum. Ela não era do tipo que despertava os instintos mais selvagens nos homens, podemos dizer que era “bonitinha” e simpática. Como eu já disse o problema todo estava na risadinha de sem vergonha que ela tinha, um jeito de menina tímida safada. A única coisa coerente com sua aparência era a timidez. David também atacou Estela, foi antes de eu chegar, ele vivia investindo contra ela, segundo suas palavras. Um belo dia ele a agarrou no quarto, nessa parte Estela não tinha conseguido me explicar direito, a história dela deixou buracos. Um dia Sandra apareceu no quarto e lá estavam os dois juntos, Estela deu a entender que David a agarrou à força, não ficou claro como que deu tempo de Sandra subir e pegar o flagrante. Se Estela fosse a vítima da forma como ela contou não iria dar tempo de isso acontecer, ela poderia ter gritado. O resultado foi que as coisas ficaram mais complicadas. Para mim Sandra se comportava como uma santa. Nunca a vi jogando essa história na cara de ninguém, nem de acusar Estela, ela ficava na dela, parecia que só ter David como companheiro bastava, por isso ela relevava tudo. A cultura deles contribuía muito para essa conformação, era normal virem os homens casados sozinhos e acabarem arrumando uma mulher para cuidarem deles lá, todos viam isso com naturalidade. E não é porque é uma cultura machista, com as mulheres também não haveria censura, a própria Mercedes era um exemplo, nunca ninguém a condenou pelos homens que trazia para sua cama.

Se eu encontrasse Mercedes naquela manhã eu seria capaz de dizer umas poucas para ela. A regra que todo mundo sabe, mas quase ninguém segue é que discussão, bate boca, brigas, nunca leva ninguém a lugar algum, mas também ficar calado e fazer de conta que nada estava acontecendo é que não iria resolver o problema. A grande questão era, o que fazer numa hora dessas? Levar para os donos da casa? Se eu reclamasse com eles, no máximo que poderia acontecer era chamarem a atenção dela e como sempre iria entrar por um ouvido e sair por outro. Eu não via como uma solução duradoura, o que não significa que não deveria ter recorrido a ele antes de tomar outra atitude mais drástica. Eu tinha outra barreira, não gostava de levar meus problemas para ninguém resolver, em algum momento de minha vida eu conclui equivocadamente que qualquer tipo de problema têm que ser resolvido por mim mesmo. Talvez tenha sido naquele lance de quando se é criança que qualquer tropeço que a gente dava a turma caia em cima chamando de dedo duro. Na realidade a conclusão que cheguei nos dias de hoje é que para se resolver um problema tem-se que ir avançando por degraus, começando pelo mais simples e ir recorrendo aos mais fortes à conta gotas até se atingir o objetivo buscado, de repente o primeiro degrau já seria suficiente para resolver ele. Deixar as coisas acumulando é pior, porque quando vem, vem de uma vez só.

Nenhum comentário: