quinta-feira, 9 de novembro de 2006

60 – Uma mão.

Após o almoço assistimos o noticiário e Gláucio quis ir jogar Play Station 2, dei mais um tempo por lá e me despedi dele.

– Bom... Deixa-me ir... Daqui a pouco vai recomeçar meu curso.

– Já vai cara? Valeu ter te conhecido.

– Brigadão por tudo viu? Tava muito boa a comida.

– Eu vou ter que ir para Brescia nesse sábado, é uma cidade vizinha daqui, para receber de uns caras por uns serviços que faço para eles de montar estandes em feiras de exposição de vez em quando. Eles sempre estão chamando para eu ir e nem sempre dá por causa do meu trampo. Você não quer ir comigo? Aí eu te apresento para eles te chamarem. Que tal?

– Beleza. Um trabalho era tudo o que eu estava precisando... Nesse sábado né?

– Isso, eu vou combinar com eles direito e depois te ligo para confirmar o horário, possivelmente vai ser logo de manhã, que à tarde eu tenho que trabalhar.

– Valeu! To te esperando... Até mais.

Mais uma esperança à vista, uma hora eu tenho que engrenar. Já voltei mais animado para meu curso. Cheguei atrasado, o professor já estava “discursando”. Todos os intervalos que tínhamos eu ficava enroscado com dona Marta, só ela. Eu temia perder a chance de conhecer os outros, no primeiro dia todos ficaram meio na sua e, portanto não tinha tanto problema, mas não era possível que ninguém gostava de conversar. De tanto que dona Marta falava a mensagem que ela tentava me passar entrava por osmose, pura dedução. Vinham-me palavras soltas que conseguia captar, muito esparsamente.


Na casa todos me perguntavam como tinha ido. David tentava conversar, só que eu não conseguia agir naturalmente. Creio que ele percebeu o meu desconforto com aquele incidente com Sandra, então ele me veio com uma história estranha:

– ... na última vez que minha mãe me enviou correspondência ela colocou dois desses chapéus e dois desses bonecos, ela mesma fez com suas próprias mãos. Disse-me que fez pensando em mim, para que eu me recorde dela.

– Nossa! Muito legal! Eu acho muito importante essas coisas feitas especificamente por uma pessoa para outra. São coisas simples assim que deveríamos valorizar. Ainda mais quando saem tão bem feitos como esses aqui. Parabéns.

– Eu queria que você ficasse com um de cada para você.

– Para mim? Você tem certeza? Sua mãe fez pensando em você...

– Eu sei, mas tenho certeza que ela vai entender.

– Puxa! Só posso dizer obrigado... Sem palavras...

Fiquei um tempo admirando meus regalos. Aquilo realmente me tocou, esse David sempre me aprontando surpresas. Se Sandra já tinha perdoado ele, eu era que não deveria me doer. Devia muita coisa a David para comprar uma briga com ele que nem me pertencia.

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