segunda-feira, 20 de novembro de 2006

69 – Palmtop.

Fiquei um pouco frustrado por não poder ajudar meu amigo mais, ele realmente estava na pior, não tinha dinheiro para nada, pelo contrário estava devendo. A única coisa que não faltava para ele era bebida.

Já em meu leito me pus a escrever meu costumeiro diário. Sempre associam a teimosia com a imagem de um burro empacado, de vez em quando essa imagem parece fazer sentido, logo na primeira semana que cheguei a Bérgamo a minha até então memória artificial infalível, também conhecida como palmtop, havia dado uma pane geral, nem resetar adiantava, tive que desligar a memória dela e apagar todo o seu conteúdo! Eu tinha feito um backup um dia antes de partir do Brasil, ou seja, perdi tudo o que tinha feito depois disso, resumindo, perdi o diário que tinha começado a escrever. Foi uma mistura de raiva, frustração, impotência, desespero, típicos das épocas em que os computadores pifavam de uma hora para outra e quando se tentava resgatar os backups dos disquetes estes estavam estragados também. Após esse desastre veio a teimosia, não me dei por vencido e recomecei o diário de novo, desde quando saí de Avaré, foi fácil relembrar e no final coloquei mais detalhes do que o anterior. O software de backup que eu havia instalado no meu dispositivo móvel funcionou bem, tudo foi restaurado, principalmente um de meus tesouros de anos de acúmulo, meus contatos. Felizmente detectei uma falha grave logo de cara, assim que eu tinha terminado de reescrever o diário imediatamente fiz um backup no meu cartão de memória externo, SD card, funcionou novamente e constatei o novo arquivo criado pelo programa, só que já calejado com essa história de inovações tecnológicas imaturas tentei restaurar o backup que acabara de criar. Bingo! Deu pau! O programa dava erro na metade da execução! Estava eu em uma encruzilhada, abandonava o projeto de escrever sobre tudo o que me acontecia e punha a perder tudo o que acabava de escrever pela segunda vez ou encontrava outro caminho para preservar meus dados em caso de outro eventual acidente. Como já havia escrito tudo de novo, o que não era pouco, não poderia simplesmente abandonar e me dar por vencido, passei a investigar um meio alternativo, gastei horas até descobrir os arquivos onde são armazenados os textos e encontrar um meio de salvar somente a parte que interessava, acabei descobrindo. Depois de vários testes constatei que meu novo método iria funcionar em caso de nova pane. A partir de então passei a salvar meus dados a cada três dias. Finalmente chegou o dia que justificasse todo aquele trabalho investigativo que levei procurando, nessa noite o palm falhou novamente, ele ficava restartando indefinidamente. Fiquei tão inseguro para verificar se iria dar certo que resolvi deixar o aparelho daquele jeito a noite toda e ver no que ia dar no dia seguinte. No outro dia a bateria havia se esgotado e a memória se esvaziado, passei a executar os procedimentos de recuperação dos dados, primeiro restaurei o backup que fiz no Brasil e em seguida substitui o arquivo referente ao texto do diário, que era um arquivo de sistema não acessível pelo usuário, pelo que vinha salvando periodicamente. Deu certo! Consegui recuperar meu diário. Seria uma judiação perder todos aqueles registros que vinha fazendo sistematicamente. Meu palm passou a funcionar muito estranho a partir de então, sempre dava umas mensagens de erro que nunca tinha dado e ele travava com mais regularidade do que antes, ficou muito estranho, mas deu para eu continuar a registrar meu cotidiano no diário... David era fascinado pelo meu aparelho, sempre pedia para brincar com ele, só não comprava um porque eu disse a ele que é necessário um computador de mesa para instalar os softwares nele, sem isso o aparelho serviria como uma simples agenda, eu tinha instalado tudo o que precisava antes de partir, o que fazia falta era quando aconteciam esses desastres, era só conectar no computador que ele restaurava tudo como se nada tivesse acontecido e eu não precisaria remediar com essas soluções improvisadas. Essas coisas não vêm escritas em nenhum manual, a gente tem que aprender apanhando.

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