segunda-feira, 6 de novembro de 2006

57 – Minha turma.

Uma das primeiras coisas que o professor disse foi sobre a máquina de café.

– Ah sim! Tomem cuidado com a máquina do café ela não volta troco, portanto coloquem a quantia justa.

– Eu descobri isso, aconteceu comigo. – Disse o rapaz árabe que me ofereceu um copo. Foi isso que ele estava me dizendo lá embaixo. Eu não entendi o que ele disse, foi uma dedução lógica. Já no primeiro dia eu percebi uma incrível melhora no meu vocabulário! Incrível mesmo, me leva a pensar que coincidiu com o fato de eu já ter acostumado meus ouvidos com a sonoridade do idioma e dessa forma dava para captar melhor as palavras. No começo do curso calculo que dava para entender 40% das frases. Ajudou muito a voz do professor, muito clara.

Do meu lado esquerdo estava sentada uma senhora, por volta dos 55 anos creio, dona Marta, já lá embaixo eu havia conversado com ela, não conseguia entender ela, a voz era confusa, baixa, rouca, foi uma judiação porque ela adorava falar, falava sem parar, mesmo assim eu consegui extrair expressões importantes dela como o inesquecível "non me friega niente", ela adorava falar isso, principalmente quando falava do filho, parecia que ele não ligava muito para ela e, portanto não lhe "fregava niente" esse jeito do filho para ela. Dona Marta não tinha nada de uma velhinha angelical, tirando a aparência, era prática, pés nos chão, estava desempregada fazia vários meses mesmo assim não consegui entender que diabos ela estava fazendo ali, era difícil de imaginar uma senhora como ela trabalhando no chão de fábrica, ela havia me explicado seus motivos só que não entendi nada. Do meu lado direito sentou-se Alex, originário da Calábria. Assim como o nordeste, a região sul é a mais pobre da Itália e é onde as pessoas são mais receptivas, até nos dias de hoje a máfia sobrevive por lá. Alex representava bem a fama de sua terra, conversava numa boa sempre gesticulando e fazendo caretas como aqueles atores de cinema representando mafiosos. Alex tinha deixado um trabalho como guarda noturno, não deu conta do recado tinha que trabalhar durante toda noite, fazia apenas um mês que ele parou, pedi para ele o endereço para eu procurar um trabalho para mim lá, ele disse que era muito duro, mas falou que ia passar outro dia, tinha que procurar na sua casa o contato. Na minha frente estavam os três jovens árabes, na realidade eles eram da Somália, eles mal tinham 18 anos de idade, parecia ser até menos. O primeiro de todos, o único da primeira fileira chamava-se Carlos, ele estava para se casar no próximo mês, era meio calado, ficava na dele, mas não se isolava. Atrás de mim sentava Luiggi, o único Bergamasco da turma, ele tinha um sotaque tão pesado que até eu conseguia perceber, lembrava muito alemão, o jeito como ele arrastava o "erre", era jovem, no máximo 20 anos, conversava pra caramba, para a minha felicidade. Finalmente na última fileira se alternavam alguns africanos que vinham esporadicamente, apenas para conseguir um certificado, a irregularidade era tanta que não consegui memorizar um único, e só fui perceber melhor quantos deles eram no último dia quando vieram, creio que todos, para pegar um certificado, alguns vinham e chagavam atrasados, e já no primeiro intervalo caiam fora. Descobri lá que o curso era por período integral. Só não dei pulas de alegria porque senão ia pegar mal, minha preocupação era que eu teria de parar de procurar emprego, mas é como dizem, cada escolha implica em uma renúncia.

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