quarta-feira, 29 de novembro de 2006

75 – Momento “curtural”.

À tarde apareceram mais alunos, foi quando me dei conta de ver muitos que não lembrava ter visto antes, todos africanos, os países exatamente eu não sei, relaxei um pouco em me preocupar com a origem dos meus colegas, banquei o interesseiro, não queria desperdiçar meu tempo. Que absurdo.

Peguei uma carona com Alex de volta para casa no final do dia, sua namorada sempre fica livre nos finais de semana, ela era engenheira e estava trabalhando na construção da ferrovia de trem bala que vai cruzar toda a Europa, sua linha vai passar por Bérgamo também, segundo Alex. É uma obra de engenharia complexa a construção dessa estrada de ferro. Boa parte do percurso será suspensa para haver um nivelamento mais preciso nos trilhos e filtrar as vibrações oriundas da movimentação do próprio trem. Nem é preciso dizer que o dinheiro necessário para construir um único kilometro dessa linha deve ser bem maior do que para construir uma linha convencional, Alex não soube me dizer quantas vezes é mais caro. Nós sempre conversávamos sobre a obra, sua namorada era engenheira civil e os dois viviam juntos na via Quarenghi. Era meu sonho conhecer sua namorada, por causa de seu trabalho, mas eu não me sentia próximo o suficiente para dizer isso a Alex, eu mais do que ninguém sei como é delicado a questão de se aproximar das pessoas no tempo certo sem dar motivos para desconfiança, mesmo assim não deu para evitar mal entendimento em algumas ocasiões com outras pessoas.

Sexta-feira no final do dia, eu só podia esperar o esperado, gente, cerveja, Cúmbia, discussão, rotina... Parece que eu já ouvi essa palavra antes. Deixa para lá.

Dessa vez tinha um homem, beirando seus 35 anos, ele ia lá de vez em quando, nunca trocamos nenhuma palavra, dessa vez ele ofereceu um copo. Todos disseram em vão que eu não bebia, não teve conversa, eu não podia fazer uma desfeita dessas, afinal um copo de cerveja no final de uma sexta-feira vinha bem a calhar. Sujeito carente. Precisava de platéia para se auto-afirmar, era uma daquelas figuras fáceis entre seu povo que adorava soltar declarações óbvias com tom de exclusividade.

– ...Porque eu sou assim Maria, eu trato bem as pessoas. Se precisar de mim não deixo na mão. Agora, que sejam leais comigo... blá blá blá...

Por um acaso devemos tratar mal ao nosso próximo? Se pudermos fazer alguma coisa por alguém por que deixaríamos de fazê-lo? O que significa ser leal com alguém além dos nossos pais, cônjuge e com Deus? Uma pergunta que sempre faço e não se cala é o que fazer numa hora dessas? Até agora não vi solução melhor do que ficar observando e tentar extrair alguma mensagem disso tudo. Alguém poderia dizer que bastasse sair dali, é uma boa opção, mas visto que não me restava muita coisa para fazer não custava nada ficar e curtir aquele momento “curtural”.

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