quarta-feira, 15 de novembro de 2006

65 – Somália.

As coisas iam a todo vapor no terceiro dia, todos estávamos praticamente como uma turma da faculdade, uma intimidade... com certas pessoas até demais. Aqueles três rapazes da Somália começaram a ficar mais à vontade. O com cara de mais novo me pediu meu número do celular, ingenuamente passei a eles pensando que era para algo sério, por que... Logo depois, em plena aula, o telefone tocou, olhei no identificador de chamadas estava escrito ligação privativa, quando atendi escutei uma espécie de apito e se desligando logo em seguida, parecia que a linha tinha caído. Quando comecei a prestar atenção na aula o aparelho toca novamente, leio a mesma mensagem no identificador, quando atendi aconteceu a mesma coisa, aí fiquei esperto. – Será que é um trote? – pensei comigo. Olho para o lado e percebo que o rapaz mais novo logo em minha frente estava olhando para o lado querendo dar risada. Por isso que quando pedi o número dele depois que passei o meu ele não quis dar. Esses três rapazes tinham um comportamento muito estranho, sempre estavam brincando entre eles e de repente ficavam agressivos com algo que não lhes agradasse, gostavam de colocar o dedo em riste para intimidar os demais e logo em seguida voltava a brincar. Não dava para entender sobre o que costumavam conversar porque falavam em seu idioma entre eles, o italiano deles não era muito bom. Até o mais velho deles, o que me ofereceu o café no primeiro dia e que realmente era uma pessoa mais madura já teve um momento raivoso, ele se chamava Zumir e pode-se dizer que possuía um carisma natural. Zumir foi o único que me passou seu número de celular. Rapaz muito consciente, não deixava os outros fazerem coisas erradas, por exemplo, o professor emprestava sua chave para a gente pegar um café na máquina e os outros dois já queriam abusar e pegar mais coisas como salgadinhos só que Zumir não permitia, tomava deles, essa foi a única vez que o vi bravo. Essa chave era um tipo de dispositivo eletrônico daqueles que se conecta em computador (USB), se carrega eletronicamente com dinheiro e depois esse valor pré-carregado é decrementado à medida que se compra na máquina, ao invés de depositar moedas. Era a mesma chave que tinha visto com André no meu primeiro dia no aeroporto de Malpensa. O terceiro rapaz da Somália era sem água e sal, não tinha nenhuma característica marcante, simplesmente andava com os outros e reproduzia suas demonstrações de auto-afirmação ao ritmo do contexto. Ele uma vez me pediu um Euro emprestado, disse que ia pagava depois do almoço naquele mesmo dia. Que cara de pau, depois do almoço voltou a me pedir emprestado. Mas ele não disse que iria me pagar depois do almoço? Nem elaborar uma mentira coesa ele soube fazer direito. Aí passei a eu pedir dinheiro emprestado a ele, dessa vez ele ficou esperto, dizia que iria trazer depois e depois voltava a pedir de novo. Cada um que a gente encontra. Cruzei com esse mesmo cara pela rua outro dia, estava com sua mãe, toda vestida a caráter de seu país, não falava quase nada em italiano, ela veio me perguntar se eu sabia se teria algum certificado no final do curso, levei um tempo até entendê-la, seu filho ajudava, mas não soube dizer se iria ter, foi com eles que aprendi a frase “não sei”.

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