sábado, 11 de novembro de 2006

62 – Especialista em termos técnicos.

Todos os dias que se sucederam ao curso, na hora do almoço, eu ia ao supermercado mais próximo que eu havia encontrado da escola, ficava na avenida que ia dar na estação de trem passando por Porta Nuova, eu tinha que voltar atravessando o túnel D'Oro em direção ao centro, era um supermercado de pequeno porte à esquerda. Todos os dias eu passava ali na hora do almoço e escolhia uma maça, pagava e ia comer ali perto em um dos bancos ao longo da calçada, desse jeito eu tive a oportunidade de conhecer a rotina de algumas pessoas naquele horário. Sempre tinha uma senhora com roupas modernas que levava seu cachorro para passear naquele horário por exemplo, aliás, na hora do almoço tinham umas três pessoas que levavam seus cachorros para passear. Eu encontrava também um casal de namorados que sentava numa praça, um pouco mais adiante, onde ficava um hotel em frente, eles namoravam sempre ali. Foram detalhes que ajudaram a construir uma noção mais ampla do modo de vida daquele país, pelo menos daquela cidade, já que o povo de lá tem costume de achar que cada cidade era como se fosse outro mundo, o que não deixava de ter uma certa verdade, basta olhar para os diferentes dialetos que cada lugar tinha.

As aulas se seguiram por todo o dia, como o previsto, à medida que avançava as coisas pareciam se repetir, o que é fundamental para fixar na memória, longe de mim reclamar das repetições. A maioria das palavras eu ia absorvendo na base da dedução, como a tradução para o aço, por exemplo, tudo o que se introduzia tinha aço no meio chegou uma hora que só podia ser isso, outras palavras mais pertinentes eu consultava o dicionário, não era freqüente eu fazer isso. Nos intervalos eu procurava conversar com cada um isoladamente, ficava muito com Aline, claro uma garota que parecia estar ainda na adolescência era uma de minhas vítimas prediletas, a curiosidade que se tem nessa idade vence o enfado de ter que ficar explicando e repetindo para me fazer entender e para responder minhas confirmações das palavras que dizia e para me corrigir. Eu sempre dizia a ela. – Nunca irei me esquecer de Aline, a garota que me ensinou italiano. – Ela ficava toda cheia. Eu não estava mentindo. É verdade e fazer com que ela saiba disso só vai motivá-la a me ajudar mais ainda. Já nas paradas que se dava dentro da sala de aula eu concentrava minhas atenções em Alex, que se sentava do meu lado, o cara também não se importava, sempre que ele ia de carro me dava uma carona de volta para casa, ele era praticamente meu vizinho na via Quarenghi, não era de muito papo não, gostava de escutar. Só que o que mais acontecia era eu escutar, escutava o professor a maior parte do tempo e sempre escutava dona Marta, e não adiantava eu tentar falar, ela simplesmente me ignorava, nem se dava ao trabalho de fazer de conta que estava me escutando, só me restava escutá-la mesmo e me limitar a responder suas eventuais perguntas. Era engraçado isso também, muitas vezes eu não me dava conta de que ela tinha me feito uma pergunta, só percebia quando ela parava de falar e ficava me olhando.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cheguei, Oi sou de Americana, falei com você ontem, já cheguei no ultimo post e estou adorando, esperando mais.Obrigado.