quinta-feira, 23 de novembro de 2006

72 – Professora.

Logo partimos para as salas de aula mais no fundo, ao lado do templo, as pessoas estavam chegando. Povos de todas as partes do mundo, Sri Lanka, vários países da África, América do Sul em peso especialmente... Bolivianos, indianos. Chineses eu não encontrei nenhum em Bérgamo. Merece aqui uma pausa quanto aos russos, eles enchiam as praças do centro da cidade, não só russos como os povos do leste europeu em geral, sempre estavam lá, sentados, os dias se passavam e sempre se viam as mesmas pessoas esperando não imagino o que, o único lugar diferente das praças que se podiam encontrá-los era na fila do seminário que serve comida, não encontrei nenhum deles nessa escola do curso de italiano ou qualquer outra igreja. Sempre se via uma garrafa dentro de um saco de papel no meio dos grupos que formavam deles.

Elizabeth me apresentou aos seus colegas, tinham duas brasileiras que faziam o curso também, eles as procuraram só que nunca cheguei a conhecê-las.
Elizabeth me ajudou a procurar minha turma, era no piso superior, ela me introduziu aos professores, duas moças muito simpáticas, uma era bergamasca, a professora responsável, chamava-se Laura, tinha um ar de atirada, jeito de curiosa, dava uma atenção que poucos são capazes de fazê-lo com tanta propriedade, era a simpatia combinada com o equilíbrio, demonstrava entusiasmo pelas coisas, é muito edificante conhecer pessoas como Laura. A outra professora auxiliar estava fazendo estágio ali, veio do sul da Itália da Sicília, baixinha e igualmente simpática, ela estava partindo para sua terra no dia seguinte, de férias. Na minha turma tinham uma venezuelana (provavelmente é colombiana também), três africanos, dois bolivianos e um do Sri Lanka, acho que é só. O meu azar foi que o semestre estava se acabando e eles estavam adiantados, já tinham acabado a apostila. Para mim não era tão problema assim, acredito que o mais importante é falar, o máximo possível e ler. Aquele curso nem se comparava com o que estava fazendo durante o dia, onde escutava palavras do cotidiano e podia conversar sem pudor, os sete dias do curso sobre máquinas valeu mais do que se tivesse feito seis meses do de italiano duas vezes por semana.

Como já tinham terminado a apostila, a professora levou alguns poemas para a gente ver. Logo se via que era uma pessoa romântica essa Laura, essa foi uma aula muito boa, além de lermos poemas ela tentava explicar o sentimento do autor, sou capaz de me recordar até hoje um trecho do poema que marcou, talvez pelo contexto em que me encontrava. "... larga-me ali, no canto... deixe-me assim...". Estava falando comigo e do jeito que ela falava dando ênfase nessa parte...

Parecia que aquela turma estava chegando ao fim do curso, estavam todos em um clima de despedida, eu pensava que era por causa da professora auxiliar que estava partindo de férias. Quando a aula terminou pude conhecer melhor meus colegas de classe, começou pelos africanos.

– Então você é brasileiro? Joga-se muito futebol por lá não? Você gosta de jogar futebol? – A clássica pergunta...

– Não, eu faço parte de uma pequena minoria que não joga futebol. Além de você estar conhecendo um brasileiro, sou um brasileiro raro.

– Nossa eu queria ser brasileiro...

– Ai! Eu também queria ser uma brasileira. – Laura interrompe suspirando. Nessas horas dá um gosto ser deste país. Só que nenhum lugar no mundo bateu no México no quesito de se tratar um brasileiro como celebridade, eu ainda estou para ver.

Lá embaixo conversei um pouco com a professora auxiliar, ela me contava sobre o dialeto que falam  em sua terra, uma combinação do latim, com herança dos mouros e egípcios, me disse algumas palavras, não entendi nada. Dei um tempo para ver se Elizabeth aparecia, eu ainda não tinha conhecido Federico e esperava conhecê-lo naquela noite.

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