domingo, 10 de setembro de 2006

11 – Malpensa Milano, Itália.

Acordamos com o acender das luzes, era o sinal de que faltava pouco para chegarmos, dava para acompanhar a posição do avião pelo monitor e dava para ver que estava fazendo frio e o tempo estava nublado em Milão, bem, eu estava preparado para um pouco de frio, naquele ano tinha sido um dos anos mais frios na Itália, o ano que o Papa morreu, enquanto isso as aeromoças trouxeram umas toalinhas úmidas para a gente se arrumar e em seguida o café da manhã, tudo muito bom. Conversei um pouco com o meu vizinho de viagem, apesar da noite eu acordei melhor para conversar, sempre desenvolvo um positivismo exacerbado em momentos de tensão, fico eufórico, alegre, é um dispositivo meu que é acionado involuntariamente. Pela janela não dava para ver nada lá fora devido ao tempo nublado, estava chovendo e parecia bem frio. A minha irmã estava meio calada, mas com bom humor e na hora que o avião pousou qualquer um perceberia que ela trabalhava dentro de um avião, a naturalidade que ela agiu naquele momento a denunciaria a qualquer um que a observasse.
Desembarcamos e fomos buscar as nossas malas e em seguida tínhamos que passar pela polícia para apresentar os passaportes, para estrangeiros havia uma fila considerável somente para estrangeiros, para os cidadãos europeus era só passar direto, como o passaporte italiano de minha irmã estava vencido ela entrou na para apresentar o brasileiro, mas daí eu peguei o passaporte italiano dela e levei para perguntar a um fiscal se ele aceitaria aquele passaporte vencido mesmo, não teve problema nenhum e nós escapamos da fila. Nesses desembarques é simples agir, mesmo para um marinheiro de primeira viagem com eu, bastava seguir o fluxo, todo mundo fazia a mesma coisa, não tinha segredo nenhum, mas as pessoas impunham um ritmo acelerado e não dava para observar muito as coisas, como por exemplo, um carrinho para carregar as mala, a minha irmã que notou que para ter um era preciso depositar uma moeda de um euro, de imediato descartei a hipótese, pois teria que me acostumar com aquelas malas do jeito que estavam, afinal elas seriam minha suposta casa nos próximos dias e não teria carrinho à minha disposição pela cidade. Nós dois saímos pelo portão de chegada em Malpensa, meio desorientados, encontramos um saguão grande com várias pessoas aguardando a chegada das pessoas para recebê-las, havia placa com o nome escrito, aquela coisa que se encontra em qualquer aeroporto do mundo inteiro, sem saber direito o que fazer a primeira coisa que me passou pela cabeça foi um banheiro e também deixar a minha irmã se sentir o mais confortável possível para minimizar o desgaste dela.
– Vamos pegar um ônibus para irmos a um hotel Vi?
– Não sei, acho melhor a gente ver os horários de volta e ver se tem vaga.
– Depois a gente pode dar uma volta para você conhecer Milão né? Para você não vir aqui sem conhecer o lugar.
– Não sei se é bom arriscar, vou ver.
– Deixa eu ir no banheiro primeiro?
Seguimos as comissárias de bordo de nosso vôo na esperança de conseguir alguma coisa, conseguimos encontrar o banheiro, elas se sentaram em frente a uma das saídas do aeroporto esperando a van para levá-las ao hotel, estavam cansadas quase dormindo na cadeira, logo em seguida delas estava o banheiro à direita, minha irmã ficou me esperando fora cuidando das malas, quando voltei ela observou algumas brasileiras que passaram por ali e apontou a direção que elas foram me descrevendo rapidamente como eram, saí correndo atrás tentando alcançá-las, mas no final não deu coragem de abordá-las e voltei pra trás. Na volta estava passando ali umas pessoas que encontramos no Brasil na fila com a gente aguardando vaga para poder embarcar, eles eram do sul do Brasil, era uma família que estava sendo levada por um funcionário que trabalhava no aeroporto gaúcho, um rapaz simpático com fala muito confusa. O chefe da família me deu umas dicas e me levou para uma empresa que vendia passagem de ônibus para a cidade de Milão, eu comprei a passagem só para não desapontá-lo porque ainda não sabia bem o que fazer, nem sabia se iria usar aquele bilhete, me disseram que o bilhete tinha validade por tempo indeterminado, por isso comprei, em todo caso comprei apenas um, minha irmã ainda não sabia o que ia fazer. Esse é um tipo de informação importante, eu como a maioria pensei em tomar um taxi ou o trem que custa três vezes mais que o ônibus, quando voltamos a Vi estava tentando entender o guia da família e confirmava tudo o que ele dizia, dava para perceber de longe. A família veio porque tinha tipo um barzinho no litoral da Itália, eram em 5 pessoas, o pai, a mãe, dois filhos e um irmão do pai, não me lembro dos nomes agora, mas peguei o telefone dele em meu Palm Top e só não perguntei se tinha trabalho para mim porque o próprio irmão estava indo para o sul para trabalhar, se não tinha trabalho para o irmão para mim é que não vai ter, pensei. Agradeci muito por tudo e nos separamos, o guia acompanhou eles levando as malas para fora. De novo ficamos só eu e minha irmã, logo que chegamos percebi que minha irmã começou a ficar perdida e a se dar conta da encrenca que eu estava para me meter e cada vez que a gente conversava com um ela ficava mais perdida sobre eu que eu iria fazer, ela estava ficando inconformada e já tentava me convencer a voltar, acho que foi isso que a ajudou a decidir a voltar no mesmo avião para o Brasil. Para deixá-la menos preocupada resolvi colocar minha bagagem em um porta-volume até às 10 horas da noite.Para passarmos o tempo até dar a hora de partir fui atrás de um computador para acessar a internet e enviar e-mail para o Brasil, tinha uma gordinha que trabalhava em um quiosque embrulhando malas com plástico num dos corredores da parte de cima do aeroporto, bem fui me tentar me informar com ela como encontrar um computador ali, já estava ansioso para entrar em contato com os nativos e me meti a falar com ela, os gordinhos sempre são simpáticos foi mais por esse motivo que fui seco nela. Porque? A menina fechou a cara, e de feinha passou a horrorosa a única palavra que compreendi dela foi “...no te capisco niente...”. Ok, próxima. A sim tinha uma morena linda trabalhando num café no mesmo corredor logo em seguida, é bem melhor receber uma cara feia de uma mocinha bonita né? Fica menos assustador. Lá vou eu de novo, felizmente dessa vez deu certo, ela falava espanhol e me explicou que ali só com cartão de telefone para usar a internet e me disse onde e como comprar o cartão. Que emoção! Foram os meus primeiros contatos com os nativos e com relativo sucesso, a primeira vez a gente nunca esquece mesmo. Fui contar para a Vi tudo o que passei nas mãos daquela gordinha.
– Vi, fui perguntar para uma feinha onde encontrar internet e você precisa ver o jeito dela, foi uma grossa!
– Fá, tem que tomar cuidado, as pessoas aqui não são como no Brasil, elas são secas.
– É mas eu fui perguntar para outra garota e ela foi muito legal e adivinhe só, era bonita.
Tinha um senhor do lado dela com cara de chefão da máfia italiana, mas eu pensava que era brasileiro porque estava lendo um jornal do Brasil, mas era italiano, só que vivia no Brasil tinha uma empresa de caixa d’agua perto da capital paulista, ele achou engraçada a forma como eu estava explicando para minha irmã aquele episódio com as meninas e não conseguiu se segurar e começou a rir, aí já puxamos conversa. Naquela altura a Vi já estava esperando seu vôo sentada no saguão de partida e aquele senhor também estava esperando para voltar para o Brasil. Ele se preocupou comigo, queria saber como eu ia fazer para me virar lá e na maior boa vontade ligou de seu celular para um monte de amigos lá na Itália, tentava se informar quais seriam minhas opções e perguntava aos amigos se ele poderia passar o telefone deles para mim, me passou uns três números de telefone em diferentes lugares da Itália até que um deles disse que tinha um albergue para estudantes no centro de Milão e que eu poderia ficar lá se me passasse como estudante, mas o preço estava salgado ainda para mim, era uma diária de 15 euros, esquece, fiz de conta que iria procurar só para ele não pensar que teve todo o trabalho em vão e para confortar minha irmã. Fiquei muito encantado com a preocupação dele, aquele gesto me deu esperança de que poderia haver vários como ele e um iria dar certo, mas na prática os esforços dele só serviram para deixar a minha irmã mais desesperada ainda, ela foi vendo, ou melhor, ela não foi vendo o que eu iria fazer e me via numa enrascada sem saída, sempre me perguntava se eu não queria voltar. Na realidade eu estava mesmo enrascado se fosse olhar só o lado de eu me virar sozinho sem contar com ninguém. Nos despedimos dele muito agradecido, eu estava pensando a recorrer aos contatos dele só em último caso, naquela altura ainda achava que iria conseguir trabalho fácil na Itália.

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