quinta-feira, 7 de setembro de 2006

9 – Dia das lágrimas.

É, me lembro muito bem daquela noite anterior à minha partida. Como certas coisas podem ficar marcadas para o resto da vida. Parece que foi ontem. Inclusive eu posso sentir até hoje a mesma sensação daquela fatídica noite.
– Vamos dormir meu amor?
– Bom, não tem outro jeito né? Boa noite dona Lourdes, boa noite Lucila. Vem bem.
Parecia que era a última boa noite que eu estava dando para a minha sogra e cunhada. Olhei para a nossa cama com uma tristeza, tantas noites, tantas lembranças que ela representava. Discussões, alegrias, amores, conversas, tudo em cima dela, era o nosso canto exclusivo que podíamos dedicar o tempo para nós.
– E então? Você tá animado? – Minha esposa me lançava olhares confusos, ora tentando parecer animada, ora sensual.
– Não sei de mais nada. Será que a gente está entrando em uma furada?
– Vai dar tudo certo meu bem, não se preocupe. – E me dava beijos. Procurava me encorajar.
– Ai bem, eu acho que não vou conseguir, estou muito nervoso.
– Tenta dormir, você precisa descansar, amanhã é outro dia.
Lembro-me que ela dormiu no meu ombro e eu em uma posição que a deixasse mais confortável possível. Esse jeito que dormi aliado ao meu estado tenso me fez acordar no outro dia com uma dor no meu ombro direito que durou dois dias. O fato de eu não ter dito a ninguém sobre a dor me chama a atenção, foi como se eu, inconscientemente, estivesse guardando para mim mesmo uma lembrança para levar sem que mais ninguém soubesse, não sei, hoje eu penso sobre esse detalhe e não consigo entender e também não entendo porque penso nisso!
– Bom dia! Como você dormiu?
– É! Até que eu consegui dormir, pensava que iria ficar acordado a noite toda, mas descansei.
– Que bom.
Levantei e me arrumei para ir para a rodoviária, nisso o telefone toca.
– Alô.
– Fabriciu é o papai, eu estou indo aí para te buscar. Você está precisando de alguma coisa?
– Não. Tá tudo em ordem.
– A sua mãe fez um lanche pra você antes de partir.
– O.K. Já estou quase pronto.
Tomei um banho e coloquei a roupa que separei para viajar, foi estrategicamente escolhida por ocupar mais espaço na mala. Em seguida meus pais chegaram.
Eu fui dirigindo, era um carro novo que meu pai havia comprado e eu não conhecia ainda, fui conhecer na minha partida. Lembro do que minha mãe disse no carro.
– Que aventura você vai enfrentar hein? Não se esqueça meu filho, se não der certo lá você pode voltar.
– Eu sei mãe. Não precisa se preocupar.
Eu entendo o que ela quis dizer naquele momento, a preocupação dela era de eu ficar lá passando as maiores dificuldades do mundo só para não dar o braço a torcer e não voltar. Só que eu estava tão confiante de que tudo ia acabar bem, que os meus planos seriam infalíveis que me pareceu mais uma preocupação de mãe, mas era mais do que isso era a experiência falando. É muito difícil a gente conseguir interpretar o que os outros querem dizer, é mais complicado ainda identificar quando devemos ouvir e analisar o que foi dito, o normal das pessoas é simplesmente ouvir. Todo mundo está sempre falando a toda hora tudo quanto é tipo de coisas de natureza diferente, depois a gente está pensando sobre outro ponto de vista do mesmo assunto, por exemplo. Somado tudo isso o resultado é pensar que a gente entendeu.
Enfim na rodoviária de Avaré, lá apareceram o meu tio Adalberto, minha tia Nair com seu netinho e a Lucila também. Foi o dia das lágrimas. Minha esposa então parecia um chafariz, meu filho, ainda muito novo, apenas fazia uma idéia do que estava acontecendo, ele queria conhecer a neve e não via a hora de ir para lá também.

Despedi-me de todo mundo e por último da minha esposa.
– Vai dar tudo certo viu? Não se preocupe.
Ela me dizia em prantos. Meu coração partido não queria deixar minha família. Olhando daqui hoje, não foi um sacrifício do outro mundo, mas naquele dia não dava para prever o futuro, tudo era incerto e olha que eu estava confiante nos meus planos hein?
Subi no ônibus e fui sozinho para São Paulo, para o aeroporto. Caramba, o negócio com a minha irmã não estava fechado de vez, havia uns probleminhas que não foram confirmados com minha irmã, eu corria o risco de ter que ficar esperando uns dias por lá antes de pegar o avião. Depois da última vez que combinei com ela nunca mais voltamos a nos falar, era mais por intermédio de minha mãe que eu ficava sabendo do andamento das coisas em São Paulo. Era para evitar qualquer desistência de última hora por qualquer uma das partes, o corte na comunicação foi intencional, apesar de todas as incertezas eu estava decidido a ir, nada poderia me impedir, a única que tinha esse poder me deu a maior força, então eu só podia ir mesmo. O perigo das coisas não avançarem era o fato de minha irmã ser obrigada a me acompanhar, e ela tinha tido o Gabriel, meu afilhado, havia pouco tempo e era muito difícil para ela sair e deixar ele. Coitada, imagino que deve ter sido uma barra ela ser obrigada a fazer isso. Como dizem os italianos “Cosi é la vita”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Como que funciona esses comentários?

Anônimo disse...

Anonimo, vc faz um comentário sobre o texto que leu e deixa aqui no blog. Todos que visitarem este blog, poderão ler o que foi escrito. O Fabricio recebe um aviso de que houve uma nova postagem em seu tópico.

Olhando daqui hoje, não foi um sacrifício do outro mundo... Fabricio, eu no seu lugar, estaria com muito medo e muito inseguro. Mais por ter que deixar a familia. Viajar sozinho não tem problema nenhum pra mim. Enfrento qq país e sem conhecer nenhuma lingua, muito menos o ingles. E a Itália é muito calorosa. Pra mim, é igual ao Brasil: desorganizada. hehe
O sul da Itália é que é mais mal-humorada.