sexta-feira, 29 de setembro de 2006

28 – Resultados obtidos.

No dia seguinte, domingo, a casa estava uma confusão, foi tudo largado do jeito que estava, parecia que o lugar tinha sido abandonado às pressas. Sanchez e Maristela que passaram a noite no sofá lá fora sumiram, foram tomar no bar, aliás, todos haviam saído, continuávamos apenas os três no quarto e embaixo sobrou as duas crianças, Jorgito e Lica e mais uma garota que havia aparecido no final da festa, era bonita, tinha um rosto atraente, porém... Quando desci as crianças estavam brincando e a garota estava lá as entretendo, era uma garota calada, todo brinquedo que Lica trazia para brincar ela pegava e examinava, com um jeitinho imparcial, não dava para decifrar a sua face. Jorgito subiu para se arrumar e sair. Estava indo comprar um lanche para os dois no Mac Donald, seria o almoço deles, foi a deixa para a garota ir até à cozinha e preparar alguma coisa para comer também, aquela comida que passara a noite toda descoberta abandonada na pia, a cor pálida característica do ensopado de frango que usualmente se preparava ali tomou nuanças esverdeada. Ela não teve pudor, esquentou tudo e mandou brasa. Quando Jorgito voltou com os lanches, ela ficava ali de butuca beliscando uma batatinha, pegando os restos que as crianças deixavam, lembrava uma galinha que bicava tudo o que estava disponível e sempre com uma expressão desprovida de qualquer demonstração de emoção. Ela sabia que era bonita, estava habituada a ser assediada, mesmo parecendo ser nova desenvolveu uma característica típica de quem está acostumada a receber elogios.

Mais à tarde as pessoas começaram a chegar. Conan se encanta com a garota e fica louco para convidá-la a tomar uma cerveja, convida ela e Mercedes, só que ficou sem dinheiro e saiu pela casa toda tentando emprestar dinheiro, dizia que tinha para devolver, estava no banco, veio a mim com a mesma história, ninguém emprestou nada até que Jorge chegou e emprestou para ele. Ele ficou contente da vida e se foi com as duas.

Marcos, visivelmente passado se senta no sofá para conversar. Eu continuava desconfiado dele, aquele interesse em me ajudar, querendo que eu saísse com ele de todo jeito, a toda hora se oferecendo. Não sei. Minha intuição dizia para ficar esperto. Engraçado como quando a gente evoca o assunto da intuição é porque ela nunca se engana né? Pois é, a minha intuição disparava o alarme quando se tratava de Marcos. Ele disse para nós que na noite anterior encontrou Mercedes envolvida em uma encrenca feia com a polícia, por pouco não a pegam. Segundo suas próprias palavras, que também era ilegal no país, conseguiu carregá-la nos braços para longe antes do carabinieri chegar, ele chegou a ouvir a sirene. Mercedes não conseguia andar sozinha de tanto que bebeu. Passamos aquela tarde conversando, estava uma bagunça, mas calmo. Naquele dia dei muita liberdade para Marcos se aproximar mais de mim, ele me ensinou algumas palavras em italiano e conversamos sobre os padres. Já havia ouvido falar neles, inclusive Marina estava se referindo a eles no meu primeiro dia. Em Bérgamo havia um seminário, Beneditino se não me engano, que dava comida aos desempregados, almoço e janta, Marcos estava sempre lá, só que o horário era muito ingrato, para o almoço, começava às 14:00H e terminava 15:30H, nesse horário as agências de emprego abriam, era difícil ficar se deslocando pra lá para comer. Falaram-me também de Mochos, foi quando me veio na memória o que Marina estava me falando e consegui associar as coisas, tinha um padre naquele distrito que passara 15 anos na Bolívia numa missão, falava bem espanhol. Ele montou um sistema para auxiliar os imigrantes, tentava encontrar empregos, auxiliava com mantimento, escutava o que faltava para as pessoas e tentava atendê-las no que fosse possível. Eles atendiam uma vez por semana, acho que nas quartas-feiras. Tinha o padre Estéfano, que auxiliava com todo quanto era tipo de coisas também, ele não costumava deixar a gente ir de mãos abanando, não fazia milagres, nenhum padre fazia. Acho que o padre Estéfano era Franciscano, esse atendia todos os dias, a estrutura de atendimento dele não era tão sofisticada quanto de Mochos. Por fim tinha o padre Marco, ele não tinha estrutura nenhuma e nem se dedicava a ajudar muito as pessoas, só que todos o procuravam, na sua paróquia tinha um curso de italiano, uma vez por semana.

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