sábado, 16 de setembro de 2006

17 – Adeus carrinho.


Fomos para o estacionamento do aeroporto. Segundo dia na Itália e eu já vou andar de carro com amigos? Legal, foi melhor ainda, era uma caminhonete bem possante cabina dupla, joguei minhas malas atrás e subimos. Eu fui no canto do lado de trás do motorista, a garota no meio e o pretendente no outro canto, ele estava todo tímido e ela então, coitada, nem demonstrava nenhum tipo de expressão, estava indecifrável. Eu me dei conta de que a garota havia ido para se casar porque Marina perguntou para seu cunhado já no carro:
– E aí cunhado, o que você achou dela? Tá gostando?
– É estamos nos conhecendo, vai ser muito bom.
Ele respondeu embaraçado e timidamente sorridente e ela normal como que não estivesse entendendo nada.
O marido de Marina me disse que pagou por volta de sessenta mil euros naquela caminhonete. Eles trabalham com limpeza pesada, quando edifícios são reformados ou construídos, são eles que entram em cena para acabar com a bagunça. Eles não moram na cidade e sim nas montanhas, não sei bem como é isso porque infelizmente não tive o prazer de conhecer a casa deles, nem sequer cheguei perto de tais montanhas, só ouvia falar muito no lugar onde fiquei.
Saímos do aeroporto e caímos direto numa auto-estrada, foi uma emoção conhecer as estradas e o trânsito italiano, é sempre bom poder conhecer coisas novas, minha antena ficou alerta, eu não queria perder nada, estávamos em alta velocidade. O trânsito é muito intenso nas estradas, muito carro mesmo, mais do que na rodovia Anhaguera em horário de pico, por exemplo, e cada carrão, tá certo que de vez em quando se via algum esboço de sucata circulando, mas é muito raro, fiz questão de procurar uma e cruzamos com duas, mesmo assim não chega aos pés das sucatas brasileiras. Tinha muita indústria também, eram empresas enfileiradas e muitas linhas de trem.
Andamos bastante e comecei a desconfiar que alguma coisa estava errada, não era para já estarmos avistando Milão? Para onde estamos indo? Lembrei-me de uma conversa que tive com um grupo de 15 jovens bolivianos naquela manhã em Malpensa, eles estavam vivendo a quatro horas e meia de trem mais ao sul da Itália, esqueci o nome da cidade, estavam chocados, não me explicaram o que havia acontecido, era algo grave, oravam muito e pareciam que estavam voltando precipitadamente, eles me contaram que moravam todos juntos em uma mesma casa, daí comecei a juntar as coisas e desconfiei que eu não tinha entendido alguma coisa na conversa com Marina, de qualquer forma vamos deixar correr para ver no que vai dar, eu não tenho nada a perder e motivos para desconfiar não havia, dá para perceber a intenção das pessoas quando não é boa e definitivamente não era o caso deles, não posso negar que cogitei algum complô, mas não fazia sentido e por isso logo relaxei.

Aquela região da Itália é muito densa, era difícil separar cidade do resto, para todos os lados que se olhava havia edifícios, movimento, gente, quando eu percebi já estávamos transitando na rua com lojas, parecia que estávamos chegando. Acho que fiquei tanto mentalizando estrada e tudo que envolve esse contexto que esqueci de identificar a cidade, quando cai na real mesmo estávamos numa rua de paralelepípedo! Foi esse contraste que me trouxe para a realidade, asfalto versus paralelepípedo, aí percebi o novo cenário, só que alguma coisa não se encaixava, parecia que eu estava na África! Eram gangues africanas que haviam dominado as ruas? Onde estou afinal?

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