sexta-feira, 22 de setembro de 2006

22 – A primeira volta a gente nunca esquece.

A única vez que vi Sanchez lúcido em minha primeira semana foi quando ele veio oferecer um celular usado para eu comprar. E agora? Posso confiar? São aqueles velhos dilemas que nos rodeia como animais famintos. Nunca tive um celular antes, nem sei direito como funcionam, perguntava para todos e falavam que era um bom negócio, o preço pareceu razoável em comparação com a rápida pesquisa que fiz na noite anterior pela vitrine de uma loja deu para ter uma base nos preços. Eu havia saído para ligar para o Alex conforme nós havíamos combinado, usei o cartão que comprei no aeroporto para acessar a internet, ele disse que o responsável pela contratação não apareceu por lá ainda e pediu para ligar no outro dia à noite. Paciência, seguiremos tentando.

Acabei fechando negócio, pedi para esperar eu ir ao banco para sacar dinheiro, Mercedes me levou até o centro comercial ali perto conhecido como Porta Nuova. Aquele dia foi minha primeira volta no meio do povo, de novo não sabia para o que olhar, aqueles prédios antigos, a aparência das pessoas, o número de estrangeiros era impressionante, dava a impressão de que a cidade estava sendo invadida, principalmente, adivinhe por quem? Claro os bolivianos. Eu tenho uma teoria. Das poucas cidades italianas que percorri Bérgamo era a única que notoriamente havia bolivianos em todos lugares, talvez isso ocorra porque os primeiros que por lá apareceram começaram a trazer outros desencadeando uma reação em cadeia, eles só conseguem se relacionar com eles mesmos e têm dificuldade de entender outras culturas, apesar de serem cordiais não são um povo fácil de aturar, é exatamente por isso que quando decidem deixar seu país eles optam ir para um lugar que tenha conhecidos, sempre se via famílias inteiras vivendo ali, tios, primos, irmãos, etc, o que não é comum entre os brasileiros, por exemplo.

A cidade parecia um labirinto, por lá o conceito de quarteirão não faz muito sentido, as ruas são muito tortuosas e pouco interligadas, se errar um caminho para voltar depois se dá uma volta bem grande. Tentei guardar a volta para ver se conseguia recordar depois, que nada, sorte que não estava sozinho porque eu queria ver, não sabia meu endereço e nem sabia como perguntar como chegar lá, eu estaria literalmente perdido. Depois de caminhar uns 15 minutos acabamos em Porta Nuova, que visão linda. No final da avenida tinha uma paisagem maravilhosa que confundia os desavisados, dava a impressão de haver uma segunda cidade suspensa no fundo, causa impacto aquela vista porque não dá para identificar ao certo o que está se vendo, tentei procurar a ladeira que ligava a cidade de cima e só via uma faixa cinzenta rodeando-a, só ficou claro para mim o que eu estava vendo depois que Mertche explicou. Tratava-se da Città Alta ou Cidade Alta de Bérgamo, a faixa cinza é a muralha que a rodeia, a cidade começou lá a mais de quinhentos anos atrás.

Quando cheguei no banco, parecia que eu conseguia sentir que o cartão não ia funcionar no caixa e eu ia ficar sem dinheiro e o pior é que não conseguia ver uma alternativa, sem dinheiro ali eu estaria perdido, antes isso tivesse acontecido. Como não sou infalível o cartão funcionou e pude sacar meu dinheiro normalmente, o caixa do Banco de Guarulhos tinha razão, saiu muito mais barato sacar dinheiro da Itália.

Na volta passamos numa loja de celular para eu comprar um cartão SIM para eu ter uma linha, comprei da operadora Vodafone porque todo mundo que eu conhecia tinha e para enviar SMS saia mais barato, o número que consegui foi o 3471517927 e me acompanhou por dois meses. Finalmente tinha um celular para colocar em meu currículo, só faltava fazer o mesmo.

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