quarta-feira, 27 de setembro de 2006

26 - Duas festas não é demais?

Nem uma semana que estou em Bérgamo e já é a segunda noite que saio de carro para me divertir. Que peso na consciência. Não estou aqui para isso. Eu sempre tive a prática de procurar uma justificativa justificável que justifique um meio de justificar a justiça por trás disso tudo, ou seja, encontrar o lado nobre da coisa. Qualquer argumento que viabilizasse o meu contato com outras pessoas, principalmente pessoas até então desconhecidas para mim era válido. Primeiro porque precisava de um emprego e quanto mais gente mais chance de ser lembrado na hora de pintar um. Segundo precisava praticar italiano e conhecer alguém que soubesse falar era uma oportunidade de ouro, ao invés de pegar um para Cristo e aborrecer ela com meus interesses pessoais enchendo-a de perguntas e usando ela para o meu aprendizado, poderia aborrecer um pouquinho de cada um sem que eles se dessem conta ou se sentissem usadas. Basicamente esses dois argumentos eu usava como consolo para não me sentir um egoísta por estar saindo por aí enquanto minha família ficava no Brasil se privando dessas coisas. O efeito colateral dessa tática que adotei por lá, é que hoje potencializei aquela pequena necessidade que toda pessoa comum tem de estar em contato se comunicando com as pessoas que a rodeiam, às vezes acho que esse costume me atrapalha um pouco, é só uma impressão não comprovada.

A primeira vez que saí à noite, foi durante a semana e adivinha com quem? Acertou quem disse David. Fomos para o cinema com um amigo dele, de carro. A Sandra não foi, as mulheres não tinham muitos direitos ali. Perguntava-me o que estava fazendo ali, se eu disser que entendi alguma coisa do filme estarei mentindo. Minto. Entendia quando os mocinhos diziam “ragazzo” que significa rapaz, mas só fui entender “ragazzi” no fim do filme que é o plural de “ragazzo”, porque perguntei para os dois.

A noite de Bérgamo é movimentada, creio que é até pior do que durante o dia, principalmente num final de semana, parecia que eu estava em uma capital. Como sempre com minhas antenas ligadas para não perder nada, principalmente empresas que dessem para passar depois para levar meu currículo, que precisava terminar de escrever. Passamos em frente a uma industria de eletrônica grande, mas não deu para encontrar depois, ainda estava muito verde o meu senso de direção na cidade. Consegui marcar o local que o irmão de Sandra estava nos esperando, era um pouco afastado do nosso ponto de partida, em uma pracinha perto de um bingo que ainda iria visitar na próxima semana, dessa vez não irei para me divertir, será para pedir emprego.

Os irmãos de Sandra. Irmãs principalmente. Só eles me renderam algumas histórias para contar. A conferir. Fomos apresentados um para o outro e seguimos para a boate. Um point de... Bolivianos. Ah! A música, Cúmbia remixada. Tudo bem não será para o resto da vida, eu tinha mais que aproveitar aqueles momentos, um dia sentirei falta, tenho quase certeza disso. Seria um pecado se eu não tivesse dançado né? Tinha que corresponder às expectativas de meu amigo, ele saiu principalmente para eu conhecer os lugares e por uma pressãozinha de Sandra também, que adorava bailar. Ficamos lá numa boa por um tempo, então resolvem me levar para outro lugar, um bar cujo nome era brasileiro. Ficava em outra ponta da cidade, era maior e mais bem freqüentada, porém com algumas indecências também. Havia uns três ambientes com diferentes músicas em cada uma, fomos para a ala mais afastada, quase escondida, era menor e onde o povo se soltava mais, vi algumas garotas, todas brasileiras, tenho certeza que faziam programa, ninguém me disse nada, mas com aquelas roupas e as companhias com senhores idosos, quando não era idoso era algum panaca se esfregando em alguma delas, na frente de todo mundo, e ainda achava que estava abafando! O ser humano é muito engraçado, patético. Essas cenas me levam a refletir e questionar se alguma vez já produzi uma cena semelhante àquela crendo ser o máximo. É a tal história da mentalidade distorcida, “saber aproveitar a vida”, é o conceito que se passa pela cabeça de todos só faltou o mundo inteiro combinar o que exatamente isso quer dizer. As meninas logo descobriram que eu era brasileiro, aí veio aquela música do “vai dançando na boquinha da garrafa”, veio um rapaz meigo me tirando para dançar na frente da garrafa que colocaram no chão, isso depois de todas terem feito. Qual é? Não pensei duas vezes, saí dali e fomos para o saguão principal, as músicas eram mais decentes só que já estava acabando e o bar ia fechar. Ufa. Voltamos para o nosso canto, por hoje chega.

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