quarta-feira, 13 de setembro de 2006

14 - Uma longa noite.

Depois daquele episódio com o André nós paramos de conversar um pouco e também ele teve que se deslocar para outra área do aeroporto com uma máquina de limpeza para continuar o seu serviço.
Eu resolvi dar mais uma geral pelo aeroporto, procurando alguém ou alguma coisa que pudesse me ajudar, era muito tarde e tudo estava praticamente parado, então tratei de procurar um canto para passar a noite e o lugar mais calmo com pouco movimento ali era justamente os bancos que ficam em frente ao banheiro e onde as comissárias de bordo da Varig estavam esperando a van no saguão de desembarque. Aqueles bancos pareciam ter sido projetados justamente para evitar que as pessoas se deitassem, era difícil encontrar uma posição, mas o tempo foi passando e o sono apertando até que ficou fácil dormir de qualquer jeito, na realidade tirava alguns cochilos e sempre que despertava a primeira coisa que eu via era uma foto gigante bem no alto da parede ao lado da entrada do corredor que vai dar no estacionamento, era de uma mulher em primeiro plano chacoalhando as mãos e ao fundo se via um índio e outros tipos de gente de certo representando os diferentes tipos de tribos no mundo moderno, pareciam estar participando de algum ritual musical, era um painel interessante de se ver. Um tempo depois o André voltou, trocamos algumas palavras, ele me perguntou se estava tudo bem e foi conversar com os colegas, era outra hora de folga. Ele sempre passava por ali de vez em quando.
Durante a noite eu fiquei imaginando por quanto tempo eu agüentaria dormir mal daquele jeito, talvez eu me acostumasse e já na terceira noite dormiria que nem uma pedra. Pensei em como vai ser no outro dia para andar por aí procurando emprego e pior, sem falar nada de italiano, deu para sentir muito bem como é se comunicar ali, se com o André que teve paciência comigo não foi fácil imagine com as pessoas que não gostam de perder tempo, cheguei a cogitar a hipótese de ficar um tempo ali no aeroporto conversando com as pessoas para ver se eu pegava as palavras chaves para pedir emprego e só depois fosse para a cidade, provavelmente Milão, bem até aquele momento, para mim, eu já estava em Milão. Tantas coisas que comecei a pensar ali e que eu poderia ter visto no Brasil, o que custava estudar as palavras chaves para se pedir emprego em italiano? O que custava ver onde ficava o aeroporto internacional para a Itália? O que custava me informar sobre a economia italiana? Essa parte pula, porque se eu soubesse viria do mesmo jeito. Muitas outras questões foram surgindo.
– Não, eu não posso ficar enrolando, tenho que agir.
Pensei comigo. Nisso surge uma mulher e se senta perto de onde estou para passar o restinho da madrugada, não pensei em outra coisa, comecei a bolar uma desculpa para abordá-la. Consegui falar alguma coisa e começamos a conversar, seu nome é Nina e ela trabalha como doméstica na Itália a mais de 16 anos, seu país de origem é Latvia, um país do leste europeu, pelo menos foi isso que eu entendi. Ela estava esperando seu vôo para ir visitar sua família depois de 16 anos sem vê-los! Não era muito de palavras e só falava se eu perguntava alguma coisa, mas no final ela se despediu de mim com alegria desejando-me sorte.
Aos poucos o movimento foi aumentando e a turma da limpeza do novo turno começaram a se reunir nos bancos onde eu estava instalado, esperando dar a hora de começarem o trampo, eram só garotas, uma tropa quatro vezes maior que o pessoal do turno da noite. O André veio se despedir de mim e foi então que descobri que justo naquele dia era feriado na Itália! Que droga! Quando eu tinha decidido a agir vem uma notícia dessas para jogar um balde de água fria, gastei uma noite inteira para tomar essa decisão à toa.
– Vou passar mais essa noite aqui então.
– Você vai ficar mais uma noite aqui?
– Sim.
– Não! Vá descansar, você precisa.
– Vou pensar, mas é mais provável que a gente se encontre essa noite de novo.
– Bem, de qualquer forma até mais ver.
Como se eu tivesse muitas opções. Fiquei observando as garotas conversarem, o modo como se vestiam, o senso de humor, involuntariamente estudava cada movimento de cada uma delas, tentando tirar informações de comportamento, para eu evitar eventualmente cometer alguma gafe ou agir de modo estranho, eu deveria evitar as encrencas. Uma hora elas se levantaram e cada uma foi para um lado. Eu também não tinha mais nada que fazer ali, o aeroporto já estava a pleno vapor e eu precisava fazer alguma coisa de útil, pensar para ver se surgia alguma idéia brilhante que aliviasse a minha situação, definitivamente passar a noite como essa última não estava parecendo um bom caminho a tomar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Falae Fabricio!
Eu subi para pegar um cartão para deixar com vcs e quando voltei já não estava mais na MZO.
Cara, muito legal o blog aqui, passei para dar uma olhada e deixar um comentário, mas vou ler com mais calma ainda. Para ajudar a lembrar dos dias dificeis que tive em Portugal tb.. hahhahaah
Um abraço e se precisar, pode usar este email para contato patrick@mzo.com.br